O braço de Túlio contra a Argentina em 95
Por Rodrigo Salomao
Curiosa história sobre os dois protagonistas da final da Copa América 2021: Brasil x Argentina.
Com Daniel Pasarella como técnico, a seleção argentina chegou à Copa América de 1995 sem brincos, chapéus ou cabelos compridos, diretrizes (quase) ditatoriais e opostas às de Alfio Basile, seu antecessor. A campanha estava indo muito bem, com vitória contra a Bolívia e uma surra de 4 a 0 no Chile. Até que, inesperadamente, os Estados Unidos frearam o ímpeto hermano com um surpreendente 3 a 0, e colocaram a Albiceleste na segunda colocação. E aí surgiu o chaveamento problema: o Brasil nas quartas de final.
Era uma Seleção Brasileira um pouco modificada em relação ao título mundial de um ano antes, mas ainda assim com nomes de muita importância. Jogadores como Roberto Carlos, Ronaldo e Túlio. Sim, ele mesmo, Túlio Maravilha. O clima de final antecipada era inevitável, assim como as polêmicas desse grande clássico.
A história do jogo parecia se encaminhar para um final feliz aos argentinos, mas, como tem sido recorrente há bastante tempo (Adriano Imperador que o diga), uma reviravolta levou o Brasil à frente. Faltando nove minutos para o fim, com 2 a 1 a seu favor, a Argentina então viu de perto o que é sofrer com uma mão num esporte que se joga com os pés. Jorginho cruzou na direita para que Túlio Maravilha controlasse, de uma forma tão perfeita quanto ilícita, com o braço esquerdo, para finalizar na saída do goleiro Cristante: empate em 2 a 2, pênaltis e brasileiros classificados para a semifinal.
"Podemos reclamar muito e dizer que a Argentina merecia mais. O jogo foi complicado para nós desde a expulsão do Leo Astrada, mas são situações de futebol, aí quem precisava de óculos eram os árbitros e auxiliares. Obviamente dói. No momento você quer comê-los vivos, mas são as regras do jogo. Infelizmente, não havia VAR e aquelas coisas definidas para um lado ou para o outro... o jogo tinha sido justo porque tínhamos melhores situações e mais controle. Mas pressionaram porque tinham um grande elenco e chegaram ao gol para levar aos pênaltis e ganhar."
- Hernán Cristante, ex-goleiro argentino
Até hoje, a torcida argentina reclama do centroavante brasileiro e de Alberto Tejada, árbitro peruano que fez vista grossa à falta cometida. Mas, como disse um sábio, tudo volta ... e só no dia 17/07/1995 voltou uma pequena dose, comparada àquele épico de uma década anterior, de La Mano de Dios:
"Os argentinos choram até hoje. Tudo bem, mas eles não podem reclamar, porque não falaram nada do gol de mão de Maradona em 1986. O deles foi 'A mão de Deus'. O meu foi o da Virgem Maria, a quem eu amo mais que Deus."
- Túlio Maravilha
O atacante ídolo do Botafogo, lembrado por ser um personagem um tanto quanto midiático, teve uma longa carreira: aposentou-se aos 49 anos no Atlético Carioca, terminou como o quinto maior artilheiro (129) da história do Brasileirão e é o quarto brasileiro a marcar 1.000 gols como um profissional.