Libertadores Feminina nos lembra que o racismo pode estar onde menos se espera - e em todo lugar

Goleada classificou o Corinthians para final contra o Independiente Santa Fe
Goleada classificou o Corinthians para final contra o Independiente Santa Fe / NORBERTO DUARTE/GettyImages
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A exibição do Corinthians mais uma vez foi impecável. Bem longe da capital paulista, as comandadas de Arthur Elias aplicaram 8 a 0 no Nacional e chegam em mais uma final da Libertadores Feminina com favoritismo de quem anotou 22 gols em cinco jogos e sofreu apenas dois tentos. Dentro das quatro linhas, a marca do Timão permanecerá irretocável. Acontece que, fora delas, as raízes do racismo, como de costume, apareceram para nos lembrar de que muitas batalhas ainda precisam ser travadas.

De pênalti, Adriana foi a sexta corinthiana que balançou as redes. Pouco tempo depois do tento, após um princípio de confusão, o clube informou, através das suas redes sociais oficiais, que a atacante havia sido chamada de "macaca" por uma adversária. A resposta veio em campo. Nos dois gols seguintes, jogadoras e comissão técnica comemoram com braços erguidos e punhos fechados. Coube ao destino (ou universo, chame como quiser), garantir que a lendária Grazi guardasse o seu por último. A história como ela é.

"Eu não vi o que ela falou, mas acredito que quem escutou se sentiu mal. Depois que as meninas me contaram me senti muito mal, nunca passei por isso e trabalhamos pra não acontecer. Numa competição importante como essa, escutar de jogadora, dói. Que ela respeite nosso trabalho e tenha consciência do que ela fez, porque trabalhamos pra estar na final e ser campeão. Que não aconteça com ninguém, porque é horrível", destacou Adriana, eleita melhor em campo, após a goleada.

A tremenda (e amarga) coincidência é que o crime acontece próximo ao Dia da Consciência Negra. E, enquanto alguns clubes brasileiros preparam homenagens inteiras para a data, somos lembrados de que a caminhada segue tortuosa, desgastante e repleta de sinuosidades. Um passo em frente, 300 anos de escravidão atrás. Mas vale a pena seguir buscando a linha de chegada. Tanto que coube a Grazi a última celebração. E imagens assim não têm preço. Passos atrás? Sim. Recuar? Jamais.