Bobadilla pode ser preso ou afastado por xenofobia? Jogador do São Paulo se pronuncia

  • Discussão entre meio-campista e Miguel Navarro, do Talleres, virou caso de polícia
  • O venezuelano afirmou, em depoimento, ter sido chamado de "morto de fome"
Bobadilla foi titular contra os argentinos e atuou os 90 minutos
Bobadilla foi titular contra os argentinos e atuou os 90 minutos / NELSON ALMEIDA/GettyImages
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Problema para o São Paulo na sequência da temporada! Acusado de xenofobia durante confronto contra o Talleres, pela Libertadores, Bobadilla pode ter punição pesada. O episódio aconteceu durante uma discussão do paraguaio com Miguel Navarro, que defende o time argentino. Na ocasião, o venezuelano deixou o gramado chorando e logo após prestou depoimento.

Conforme consta no regulamento da Conmebol, se for confirmado caso de xenofobia o atleta será suspenso por pelo menos quatro meses, seguindo o artigo 15.

"Qualquer jogador ou oficial que insultar o atentar contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, tendo como motivos a cor da pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será suspenso por pelo menos dez (10) partidas ou por um período mínimo de quatro (4) meses."

Artigo 15, regulamento Conmebol
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Miguel Navarro acusa Bobadilla de xenofobia / NELSON ALMEIDA/GettyImages

A nota oficial do São Paulo sobre o caso

O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais. Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.

O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma. O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.

Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa - ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo - entendemos ser fundamental que o Clube ofereça suporte institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance.

Damian Bobadilla
São Paulo se pronunciou sobre o caso / Miguel Schincariol/GettyImages

Durante o duelo Brasil-Argentina no Morumbis, Navarro discutiu com Bobadilla e tentou deixar o gramado antes do apito final. Todavia, o árbitro Piero Maza interferiu e o atleta seguiu em campo, mesmo chorando. Após o encerramento, o venezuelano foi questionado sobre o acontecido, mas não entrou em detalhes.

"É realmente lamentável falar deste tipo de coisa, mas quando eles fazem o 2 a 1, Luciano estava dando praticamente uma volta no campo e eu disse ao árbitro que se apresasse, que necessitamos jogar. O Bobadilla me disse: ´Vocês sempre fazem cera´. E eu respondi: ´Como assim, vocês estão ganhando?´. Aí ele me chamou de venezuelano morto de fome e fiz a denúncia. Eu quis sair de campo, mas lamentavelmente não tínhamos mais substituições, pelo trabalho dos meus companheiros eu não quis sair e deixá-los com um a menos, mas minha cabeça não estava mais no jogo."

Miguel Navarro

Já na zona mista, o jogador do Talleres afirmou que foi vítima de xenofobia e revelou que Bobadilla proferiu as seguintes palavras: 'venezuelano morto de fome'. Assim, Navarro prestou depoimento no Juizado Especial Criminal no estádio e registrou um boletim de ocorrência. Os oficiais até se deslocaram até o vestiário dos mandantes, mas o paraguaio já tinha deixado o local. Segundo apuração do UOL, a Conmebol só se manifestará após analisar todos os depoimentos.

Polícia quer ouvir Bobadilla

A Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) da Polícia Civil de São Paulo classificou o caso como injúria racial. Bobadilla será intimado a depor, como informou o delegado Rodrigo Correa Baptista, e o clube se reuniu com ele para entender o caso. A princípio ele continua treinando normalmente.

"Esperamos que ele compareça. Foi intimado para estar aqui na próxima sexta-feira, no período da tarde. Também solicitamos imagens ao São Paulo e agora, precisamos confrontar tudo isso com as imagens que vão chegar, se identificamos algum jogador que no momento estava próximo do Navarro e do Bobadilla e ver eventuais versões de outras pessoas. A vítima, que é o Navarro, foi encaminhada à delegacia, ouvimos ele. Falou que ouviu essa frase em espanhol do Bobadilla. Duas testemunhas confirmaram a versão da vitima. O árbitro disse que não presenciou nada do ocorrido, só antes ou depois do episódio. Os policiais militares foram ouvidos também. Agora precisamos ouvir o Bobadilla. É importante (...) É um fato grave, está sendo apurado e o Estado tem de encaminhar essa investigação. É parte importante a oitiva dele, inclusive interesse próprio dele enquanto investigado se defender disso. A gente espera e acredita que por ser um atleta profissional de um grande clube, eles não vão se opor, criar qualquer tipo de situação para atrapalhar a investigação criminal, até porque seria uma medida irracional que só vai atrapalhar a vida do investigado", afirmou.

O que Bobadilla falou sobre o caso de xenofobia?

"Foi um jogo muito quente, um clima tenso durante todo o jogo. Depois do nosso segundo gol, tive uma troca de palavras com o jogador do Talleres onde fui ofendido primeiro, ele também me tratou com desprezo. Nunca tive a intenção de discriminar ninguém, mas durante aquele momento quente acabei reagindo mal. Queria me desculpar publicamente e pedirei desculpa se encontrá-lo pessoalmente. Desculpas e abraço a todos", declarou Bobadilla, camisa 21 do São Paulo, nesta quarta-feira (28).

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