Joel Santana critica ‘doença’ por técnicos estrangeiros, e ele tem razão, mas debate vai além
Por Antonio Mota
Após o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e de Jorge Sampaoli no Santos no ano passado, o futebol brasileiro entrou em uma paranoia sobre os treinadores estrangeiros. É a bola da vez. É a moda. Agora, para muitos dos fãs, dirigentes e outras personalidades do mundo da bola no Brasil, é preciso ter um técnico de fora do país para se ter sucesso, para ser moderno e também para estar mais próximo do “outro patamar”: o europeu.
De lá para cá, vários ‘gringos’ pintaram no país do futebol: o venezuelano Rafael Dudamel conheceu o Atlético-MG, o português Jesualdo Ferreira passou pelo Santos, o argentino Eduardo Coudet fez uma boa campanha no Internacional, o espanhol Domènec Torrent trabalhou no Flamengo, o português Sá Pinto fechou com o Vasco, o lusitano Abel Fernando se acertou com o Palmeiras, e por aí vai. A lista é extensa, mas quem deu certo? Bom, aí é outra história.
A verdade é que é necessário abrir espaço, e muito, para os estrangeiros, mas isso não tem que se tornar uma regra: existem bons treinadores brasileiros – ressaltando que realmente há um caminho longo a ser percorrido até os profissionais do país estarem no mesmo nível dos do exterior –, e eles também têm capacidade para fazer ótimos trabalhos. O Brasil não pode se tornar refém dos técnicos internacionais.
“Vamos parar com essa p***a de ficar pegando treinador lá fora, temos bons treinadores aqui dentro. Isso virou doença. Acha que tudo vai dar certo? Não vai não, se não tiver time na mão e competência, vai quebrar”, desabafou Joel Santana, em seu podcast no Youtube, acrescentando ainda sobre não ter entendido o que levou o Botafogo a demitir Bruno Lazaroni e contratar Ramón Díaz e também o que motivou o Vasco a trocar Ramon Menezes por Sá Pinto.
Em si, o futebol brasileiro entrou em uma moda de que os “estrangeiros são bons, e o brasileiros ruins”. E o engraçado é que muito dos envolvidos no ambiente futebolístico do país – torcedores, dirigentes etc. –, na verdade, nem conhecem concretamente os trabalhos de Gabriel Heinze, Sebastián Beccacece e tantos outros que rotineiramente são ventilados por aqui. É preciso ter calma com o vício sobre os técnicos de fora.
Portanto, Joel Santana tem razão ao falar sobre essa “doença” de que apenas os técnicos estrangeiros são bons – os brasileiros também têm boas qualificações e boa capacidade. Porém, ao mesmo tempo, há um outro debate nas entrelinhas dessa discussão: o que os técnicos do país estão fazendo para mudar esse cenário? Não vai adiantar só ficar reclamando da falta de espaço, do “modismo”, do tratamento diferente etc. É preciso mudar, se atualizar e correr atrás do que foi perdido.
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