Do sushi à análise de desempenho: a história de Taichi Wakabayashi, japonês do Sevilla vivendo um sonho na LaLiga
Por Antonio Mota
Existem limites para se realizar um sonho? Para Taichi Wakabayashi, não. Focado em trabalhar com futebol, o japonês atravessou os 11 mil quilômetros que separam a Espanha do Japão, trabalhou em áreas antes inimagináveis, correu atrás e não poupou esforços. Hoje analista do Sevilla, o profissional conta essa grande história, que começou lá atrás, em 2008.
Logo de cara, Wakabayashi conta o motivo de ter escolhido a Espanha. “Pensei em ir para a Espanha ou para a Holanda, porque são dois países onde é possível ganhar seu distintivo de treinador sem ser um profissional de futebol. Mas escolhi a Espanha porque gostava da LaLiga e, principalmente, do Sevilla, que conquistou dois títulos da Europa League em 2006 e 2007. Eu os vi jogar do Japão e seu estádio era impressionante, com os torcedores apaixonados pelo time, como loucos. Isso teve um grande impacto em mim! Claramente havia algo especial lá e eu queria aprender sobre isso, então é por isso que escolhi Sevilha. Embora, naquela época, todos no Japão seguissem os times do Barcelona de Frank Rijkaard e Pep Guardiola”.
Além de falar sobre os motivos que o levaram a escolher a Espanha, Wakabayashi também comentou sobre os caminhos que precisou percorrer para conseguir o distintivo de técnico. Afinal, antes de qualquer coisa, ele precisava sobreviver, e não poupou esforços. À época, em 2008, com 26 anos, ele trabalhou em times locais em Sevilla, como tradutor e também como chef de sushi. “Eu tinha que ganhar a vida, mas também não podia desistir do futebol, que era meu grande sonho. Estudei um pouco de espanhol no Japão com o dicionário e com palavras de futebol, mas isso não valia muito... eu nem sabia fazer sushi no meu país, mas aprendi na Espanha”, declarou.
Depois, com o certificado de treinador de nível três, o qual o permite trabalhar em qualquer categoria e equipe, Taichi resolveu continuar na Espanha e se aprofundar ainda mais no futebol. Na temporada 2017/18, ele trabalhou no San Alberto Magno de “Chesco”, ex-treinador das divisões de base do Sevilla e quem o introduziu ao clube rojiblanco. Bem avaliado, o japonês foi apresentado a Agustín López, diretor da categoria de base do clube, que o ofereceu uma função de analista, sendo designado posteriormente para a equipe ‘Juvenil A’ (Sub-19). “Eu aceitei sem hesitar”, lembra Taichi.
Já nesta temporada, Wakabayashi e seus dois colegas (Juan Antonio Guzmán e Mario Prieto) analisam adversários e procuram tendências na forma de jogo. Com tudo em mãos, eles fazem um relatório e entregam a Lopetegui. “Ele tem muita paixão e força e é um líder que pode levar sua equipe à vitória. Ele é muito detalhista e está sempre trabalhando no complexo de treinamento do clube. Ele dedica muito tempo ao futebol, sempre focado no próximo jogo e no próximo adversário, o que explica o sucesso da temporada passada quando o time terminou em quarto lugar na LaLiga e conquistou a Liga Europa”, afirmou o japonês sobre o treinador.
Peça-chave para o bom rendimento do Sevilla, do zagueiro brasileiro Diego Carlos, Taichi ainda lembrou da sua estreia no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, na temporada passada. “O meu primeiro jogo no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, como analista da equipa principal, foi na terceira rodada de 2019/2020 contra o RC Celta Vigo. Tínhamos tido duas partidas fora para começar e depois era a pausa internacional, então eu estava esperando por quase um mês desde o início da temporada! Quando a partida começou, eu estava focado no meu trabalho, mas ao mesmo tempo foi um momento muito especial para mim. Foi um sonho que se tornou realidade, pois 11 anos depois de chegar à Espanha eu trabalhava para o Sevilla FC no Sánchez Pizjuán. Poucos anos depois de chegar do Japão, comprei um cartão de membro do Sevilla FC para ir ao estádio como torcedor e vi o time ganhar três títulos da Liga Europa consecutivos. É um estádio incrível, de outro mundo. Os fãs realmente empurram o time para frente. Imagine!".
Apesar de valorizar o passado recente, Taichi também projeta um grande futuro. “A Espanha tem uma cultura muito rica e Sevilha é uma cidade especial. Nunca me senti um estrangeiro no clube, mas também não posso dizer que sou sevilhano. Eu sou japonês. Tenho uma maneira diferente de pensar e viver. Eu gosto disso. Quero continuar aprendendo na Espanha, mas, eventualmente, voltar ao Japão e fazer algo para ajudar o futebol japonês a crescer. Esse é o meu objetivo”, declarou, acrescentando sobre o desejo que seus compatriotas acompanhem o Sevilla:
“Quero que as pessoas no Japão assistam ao Sevilla FC. Normalmente seguem o Real Madrid, o FC Barcelona e os clubes com jogadores japoneses, mas quero que saibam que existe uma equipe muito interessante que trabalha bastante e que joga num estádio excitante. Quero que as pessoas assistam ao Sevilla FC porque gostam”, encerrou.
No século 21, o Sevilla ostenta uma história de sucesso notável, pois deixou de jogar no segundo nível (a LaLiga SmartBank) em 2001 para ser considerado o melhor clube do mundo em 2007, de acordo com o IFFHS. Eles conquistaram 10 títulos importantes neste século - um recorde de seis taças na Liga Europa, uma Supercopa Europeia, dois títulos da Copa do Rei e uma Supercopa Espanhola -, e isso fez do clube um exemplo de gestão brilhante do futebol. Nesta temporada, eles estão sendo considerados candidatos sérios a disputar o título da LaLiga Santander por muitos fãs e especialistas. E tudo isso está acontecendo com Taichi Wakabayashi desempenhando um papel ativo nas excelentes performances da equipe em campo. No epicentro do futebol alegre da Andaluzia, está o talento e o rigor japoneses.
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