Contratação de Marcinho mostra que o futebol segue perdoando criminosos que não pagaram por seus atos
Por Lucas Humberto
Um passo em frente, dois passos atrás. No último sábado (27), o São Paulo anunciou empréstimo de Jean ao Cerro Porteño, do Paraguai. Em 2019, o goleiro havia sido preso nos Estados Unidos por agredir sua esposa. Apesar do crime, ele conseguiu espaço no Atlético-GO para recuperar seu futebol e conseguiu, chegando a figurar entre os arqueiros mais decisivos do último Brasileirão.
Com o término de sua passagem pelo Dragão, era esperado que grandes clubes nacionais buscassem sua contratação, em razão do bom desempenho dentro das quatro linhas. Todavia, os feitos do passado pesaram, e com toda razão. Em contrapartida, na manhã deste domingo (28), os torcedores foram pegos de surpresa com a contratação de Marcinho pelo Athletico-PR.
No dia 30 de dezembro de 2020, menos de três meses atrás, o lateral-direito atropelou e matou um casal de professores no Rio de Janeiro. Ele não prestou socorro.
Como quase todas as pessoas economicamente privilegiadas no Brasil, Marcinho, ex-Botafogo, não precisou responder pelas consequências dos seus atos. Para além dos problemas estruturais e legislativos envolvidos na situação, é estarrecedor perceber que o Furacão ofereceu toda a glória do seu manto ao jogador.
A família sequer teve tempo de se recuperar de uma perda irreparável e Marcinho já encontrou seu novo destino. E o pior: não se trata de um clube pequeno num campeonato desconhecido. Estamos falando do Athletico-PR na 3ª maior liga nacional do mundo. Enquanto os familiares de Alexandre Silva Lima e Maria Cristina José Soares sofrem tentando travar uma briga perdida por justiça, o atleta de 24 anos é recebido por dirigentes e comissão técnica.
Aqui não discutimos condenação eterna, mas propomos a velha máxima: dois pesos, duas medidas. O acidente pode não ter sido culpa de Marcinho, mas deixar duas pessoas caídas no chão sem socorro, foi. Quem sabe os primeiros atendimentos não salvassem as vítimas... E essa dúvida é justamente a linha tênue que leva esse caso de mero acidente para um crime que merecia punição.
A Justiça escolheu não punir, como é habitual sempre que há poder e dinheiro em jogo. O futebol, por outro lado, optou por ser condescendente e mostrou que no universo futebolístico sempre haverá perdão, panos quentes e mãos estendidas, independentemente do crime cometido. O Furacão abriu suas portas para alguém que sequer pagou pelos seus atos. E esse talvez seja o maior ato de desprezo pelas vitimas e familiares em toda situação.
O futebol deu uma segunda chance para Marcinho, Jean, Bruno e por pouco não recebeu Robinho de volta. Um passo para frente, vários passos atrás.