Até quando?
Por Thomas Savoia
O futebol tem sua linguagem própria. Para muitos, é considerado uma religião. Ele tem o dom de unir pessoas de culturas, etnias e origens diferentes, seja pelo sentimento de felicidade e orgulho compartilhado quando seu time sai de campo com os 3 pontos ou pelo nervosismo e sofrimento na hora das penalidades. Entretanto, esses momentos são muitas vezes arruinados por atitudes antiéticas, imorais e completamente absurdas. Palavras e discursos de ódio ainda são proferidos dentro de campo.
Ontem, o futebol sofreu um marco. Frente a um histórico extenso de posturas racistas e consequentes falta de posicionamento a respeito dos casos, houve uma afronta a essa estrutura. Durante o jogo entre PSG e Istanbul Basaksehir pela Champions League, depois de escutar o quarto árbitro romeno Sebastian Coltescu se referir a um membro da comissão técnica do time turco, de “aquele preto ali”, o centroavante Demba Ba reclamou para o juíz e o acusou de racista. Somada à indignação do jogador, o restante dos times apoiou o sentimento e tomou uma atitude nunca vista antes: se recusaram a jogar até que o árbitro se retirasse do campo. O jogo foi suspenso e vai acontecer hoje (9), às 14:55 (de Brasília).
Além das constantes alegações racistas no futebol, seja por parte dos próprios jogadores, as autoridades ou até mesmo da torcida organizada, outra forma de discriminação presente nos campos é o antissetimismo sofrido pelos times com origens judaicas. Tudo começou antes da Segunda Guerra Mundial com o time do Ajax, da Holanda. Na época, mais de 120 mil judeus moravam na parte leste do país. A paixão pelo clube foi crescendo e a origem judaica permaneceu no time através de jogadores, presidentes e diretores. No entanto, a partir da década de 70, torcidas adversárias começaram a proferir gritos de ódio contra judeus nas partidas realizadas contra o clube de Amsterdam. Para se mostrarem fortalecidos e unidos, os ''Super Judeus" como era conhecida a torcida do Ajax, começou a cantar músicas judaicas durante as partidas do clube.
Tais episódios, tanto a revolta do jogador Demba Ba no jogo de ontem como a postura da torcida do Ajax, sem sombra de dúvidas, balançam as estruturas do esporte e mostram a evolução do empoderamento racial dentro dos gramados. As atitudes humanitaristas, representam um sinal de esperança para tantos outros que sofrem calados e um exemplo do real significado do mundo futebolístico, que deve ser sem barreiras e livre de qualquer forma de preconceito.