O scout no futebol em 2025: a importância do diálogo entre a tecnologia e o olhar humano
- Ferramentas tecnológicas transformaram profundamente o trabalho de scout
- Contudo, validação humana ainda é fundamental para a busca pelos melhores resultados
Por Nathália Almeida

A profissão de olheiro no futebol passou por uma transformação radical. Se antes a rotina clássica envolvia longas viagens e observações in loco em jogos considerados como "obscuros", o acesso à internet e a plataformas de dados revolucionaram a captação de talentos. Hoje, a tecnologia democratiza a informação sobre jogadores de todo o mundo, mas a sensibilidade do olhar humano continua sendo o fator essencial no processo. Esta é a história apurada pela equipe da Superbet, plataforma de apostas esportivas, que destaca o equilíbrio entre a tecnologia e a intuição na busca pelo próximo craque.
A era das plataformas e estatísticas
O acesso a plataformas como a italiana WyScout, descrita como uma "Blockbuster do futebol" que armazena jogos e clipes de atletas, tornou-se obrigatório. Elas fornecem vídeos, dados e estatísticas que permitem aos olheiros monitorar jogadores em diversos mercados. Frederico Fortes, olheiro internacional do Norwich para a América do Sul, afirma que, antes dessas ferramentas, os nomes de possíveis contratações chegavam quase exclusivamente por agentes: "Antigamente, todos os nomes que chegavam eram enviados por agentes. Não existiam ferramentas para você fazer um monitoramento dos atletas. Hoje nós temos. Sabemos todos os jogadores disponíveis em todos os mercados", explica Fortes à Superbet.
A grande ideia por trás do uso de estatísticas no futebol é o refinamento da busca. Seguindo a lógica do Moneyball (estratégia de beisebol que usa dados para encontrar ineficiências de mercado), os clubes podem definir filtros e métricas para achar o jogador ideal que se encaixe no estilo de jogo da equipe. Clubes da Premier League como o Brentford e o Brighton – que baseiam sua abordagem na análise de dados –, são exemplos de como essa metodologia, aliada a outras plataformas mais aprofundadas como Stats Bomb e Skill Corner, pode ser usada para contratar talentos fora do radar dos gigantes.
O filtro de dados e a validação humana
As estatísticas funcionam como um guia e um filtro, mas não substituem a avaliação qualitativa. Fortes relata que, após gerar uma lista de 15 a 20 nomes por posição com base em números (pique, velocidade, pressão, etc.), ele precisa assistir aos vídeos para qualificar e validar as métricas. Um alto índice de dribles, por exemplo, precisa ser analisado no contexto: foram dribles ofensivos ou defensivos? Para frente ou para trás? Essa análise humana é crucial para interpretar as estatísticas e evitar erros, como a vez em que Fortes quase descartou um jogador promissor devido a números baixos causados por uma lesão séria.
O último passo do processo é a observação in loco. Depois da filtragem de dados e vídeo, os olheiros são enviados para assistir ao jogador com o objetivo de confirmar impressões, observar seu comportamento sem a bola, interações com os companheiros e como lida com a pressão. Aspectos psicológicos e disciplinares dependem da coleta de informações fora dos softwares. Jeferson Ramos, gerente de mercado do Barra, clube da Série D com gestão empresarial e tecnologia no foco, reforça: "A ferramenta não toma decisão sozinha" e, muitas vezes, é preciso "pegar o telefone e ligar" para apurar informações sobre o extracampo.
A realidade da Série D e a visão de um campeão mundial
Na base do futebol brasileiro, como na Série D, as informações são mais escassas. Paulo Henrique Cordeiro, coordenador de análise do Santa Cruz, relatou que a escassez de vídeos nas plataformas exigiu uma rede de colaboração entre profissionais via WhatsApp para compartilhamento de vídeos de jogos, destacando a necessidade de esforço e compromisso de ver as partidas, dada a menor cobertura de divisões inferiores.
O ex-capitão da Seleção Brasileira e pentacampeão mundial Cafu concorda que a tecnologia revolucionou o futebol, mas ressalta que o talento é imbatível e não pode ser quantificado apenas por estatísticas ou números frios. Na visão do histórico lateral-direito, é preciso seguir valorizando as características e fundamentos onde o "algoritmo" não chega.
"É evidente que hoje as ferramentas e os profissionais que trabalham com dados conseguem identificar coisas que na minha época não eram possíveis de forma tão precoce. Contudo, nós já perdemos algumas dessas jovens promessas porque o scout muitas vezes não vê algumas características do jogador. Uma bela caneta, um chapéu de carretilha, um drible da vaca, um olé, enfim, isso realmente tem que voltar a fazer parte do nosso futebol. O talento é imbatível."
- Cafu, à Superbet
Perguntado pelo 90min via Superbet sobre mercados alternativos que vem fazendo um bom trabalho no monitoramento e desenvolvimento de jovens talentos, Cafu citou um país africano que vem alcançando resultados expressivos no futebol recentemente: "Marrocos seria uma boa opção, é só ver o que Marrocos fez agora no Mundial Sub-20, uma seleção que classificou em primeiro, jogando contra seleções importantíssimas como Espanha, México e Brasil", pontuou.
Em seguida, o bicampeão da Copa do Mundo (1994 e 2002) apontou os clubes do Brasileirão que, na sua visão, se destacam no trabalho de scout: "Quando você se fala hoje de jovens revelações e de grandes talentos, você fala de São Paulo e Palmeiras. São as principais referências", finalizou.
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