Trio do Flamengo não depõe, e STJD vai fechar inquérito do ‘caso Gerson’ sem ouvir jogadores do clube carioca
Por Antonio Mota
Os atletas Gerson, Bruno Henrique e Natan, do Flamengo, não comparecem para prestar depoimento sobre o ‘caso Gerson’ na sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Centro do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (3). Deste modo, o órgão decidiu que vai dar continuidade ao inquérito que averigua a denúncia de racismo do volante do Fla contra Juan Pablo Ramírez, do Bahia, sem escutar os atletas do clube carioca.
De acordo com informações do ge, o Rubro-Negro enviou ao STJD um pedido de adiamento dos depoimentos do trio na noite da última terça-feira, mas o relator do caso, Maurício Neves Fonseca, não vai acatar a solicitação. Ele vai despachar a negativa do pedido ainda nesta quarta-feira. Cabe notar que essa foi a segunda vez que o clube tentou alterar a data da audiência – na primeira, o órgão indicou que o encontro poderia ser online, mas o time optou por manter de forma presencial.
Desta forma, com a audiência presencial sendo mantida, o STJD marcou os depoimentos para as 10h30 (de Brasília) desta quarta-feira. O trio, porém, não compareceu. O Flamengo comunicou que os três atletas estão concentrados para o clássico contra o Vasco e, por isso, não foram à sede do órgão.
Vale lembrar que a investigação do ‘caso Gerson’ foi aberta a pedido da Procuradoria do STJD no dia 14 de janeiro. Já no último dia 25 do mesmo mês, o Tribunal ouviu os depoimentos do trio de arbitragem da partida e também do delegado Marcelo Vianna. O inquérito precisa ser fechado até o próximo dia 11 de fevereiro.
Após a conclusão do inquérito, também segundo o ge, a Procuradoria do STJD vai avaliar uma possível infração por parte do Flamengo pelo não comparecimento dos atletas à audiência.
Ainda segundo o ge, os auditores se surpreenderam com o não comparecimento de Gerson, Bruno Henrique e Natan à audiência, visto que a denúncia partiu do próprio Flamengo. E também pelo fato de o clube ter escolhido e concordado com a data marcada.
Relator do caso, Maurício Neves Fonseca explicou que não acatou o pedido do Flamengo por seguir o mesmo critério que utilizou para negar os pedidos de adiamento de Ramírez e Mano Menezes, ex-técnico do Bahia. Ambos irão depor na tarde de hoje.
DO CASO
Gerson acusou Índio Ramírez de racismo na vitória do Flamengo para cima do Bahia, no Maracanã, no dia 20 de dezembro do ano passado, ainda pela 26ª rodada do Campeonato Brasileiro. Segundo o volante, o colombiano teria dito: “Cala boca, negro”.
“Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito”, afirmou Gerson após o jogo.
Já no dia seguinte, após toda a repercussão, Ramírez falou que em nenhum momento foi racista.
"Em nenhum fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. Acontece que quando fizemos o segundo gol botamos a bola no meio do campo para sair rapidamente e o Bruno Henrique finge e eu arranco a correr e eu digo a Bruno que” jogue rápido, por favor”, "vamos irmão, jogar sério”. Aí ele joga a bola para trás e Gerson, não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei "joga rápido, irmão". Aí passo por ele e sigo a bola. Não sei o que ele entendeu, o que ouviu. Ele jogou a bola e passou a me perseguir sem eu entender o que passava. Dei a volta por trás porque não queria entrar em briga com ninguém e depois ele sai falando que o tratei com “cale a boca, negro” falando português quando eu realmente não falo português. Estou apenas alguns meses no Brasil e sobre isso de ser racista não estou de acordo, porque isso não é bem visto em nenhuma parte do mundo e sabemos que todos somos iguais e em nenhum momento falei isso e menos ainda usei essa palavra", declarou.
Investigação
A Procuradoria do STJD só vai concluir a investigação após ouvir todas as partes. Depois, com tudo em mãos, o órgão vai decidir se vai ou não fazer uma denúncia sobre o caso – o qual pode entrar no Art. 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Pena: suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de 120 a 360 dias, se praticada por qualquer outra pessoa, além de multa, de R$ 100 a R$ 100 mil.
Cabe ressaltar que o caso também está sendo investigado na esfera pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.
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