Torço para o Fluminense e digo: escolha de Abel por memória afetiva pode ser a 'cova' do Inter
Por Nathália Almeida
Quais são as similaridades entre Internacional e Fluminense? O que une esses dois clubes? De Estados distintos, origens distintas e histórias distintas, colorados e tricolores têm Abel Braga como uma forte interseção, um protagonista emblemático que escreveu seu nome, em letras maiúsculas, nos corredores do Beira-Rio e das Laranjeiras.
Ninguém é capaz de apagar a história. E Abel Braga fez história no Colorado e no Tricolor Carioca. Minha primeira memória de Abel na área técnica do time que torço, o Fluminense, data de 2005: uma temporada de desfecho amargo e injusto para nós, com o vice da Copa do Brasil diante do Paulista e sem vaga na Libertadores via Brasileirão após passar boa parte da competição entre os primeiros colocados. Apesar de frustrante em resultados, o futebol jogado por aquela equipe, que tinha Petkovic como maestro e Tuta como principal artilheiro, me marcou.
Em 2006, Abel emplacaria as maiores glórias de sua espetacular carreira. Contrariou os prognósticos negativos já com a conquista da América pelo Internacional, mas chocou o planeta pra valer ao bater o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho na final do Mundial. Alguns preferem apelar para a narrativa da 'retranca', eu prefiro dizer que foi uma verdadeira aula tática patrocinada pelo comandante colorado, à época vivendo em seus grandes anos.
Mas o tempo passou, e como passou. Quase 15 anos já se vão desde aquele gol de Adriano Gabiru. O futebol mudou brutalmente desde então, atropelando sem piedade de quem insiste em permanecer estacionado. Os últimos trabalhos de Abel Braga, entre Fluminense, Flamengo e Vasco da Gama, escancaram sua evidente dificuldade de se modernizar. Muitos torcedores tricolores vão se lembrar de Marcelo Oliveira no 'quase rebaixamento' de 2018, mas o primeiro semestre, ainda com Abel nas Laranjeiras, foi a origem um precipício quase irrecuperável ao clube.
O Abel que as torcidas de Internacional e Fluminense aprenderam a amar ainda é o mesmo. E talvez seja justamente esse o problema: ele não mudou nada, enquanto tudo ao redor, mudou. Apostar na memória afetiva em pleno 2020 pode ter sido a 'pá de cal' para a temporada do clube gaúcho, já que fatores como identificação histórica e domínio de vestiário, que sobram em Abel, são importantes mas insuficientes para se construir uma equipe competitiva e vencedora.