Sem terra arrasada ou conformismo: Brasil mostrou vícios e virtudes, mas há um norte a seguir

Brasil não fez um bom jogo contra o Canadá
Brasil não fez um bom jogo contra o Canadá / Koki Nagahama/Getty Images
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Em um país onde o resultado costuma valer muito mais que o processo, a eliminação da Seleção Brasileira para o Canadá, nas quartas de final do futebol feminino olímpico, soa como uma involução em relação ao último ciclo, afinal de contas, a Canarinho terminou os Jogos do Rio 2016 com a quarta colocação geral. Trata-se de uma leitura rasa e mentirosa, mas que com certeza veremos sendo repetida aos quatro ventos nas redes sociais por pessoas que pouco ou nada acompanham a modalidade.

O fato é que a queda do time brasileiro nesta sexta (30) não permite leituras acaloradas ou extremas: foi inesperada e frustrante, sim, mas jamais vergonhosa. É preciso refletir com profundidade sobre o que aconteceu em Tóquio, os erros cometidos e certos vícios tão conhecidos que acabaram se repetindo na chamada "Hora H", para que estes sejam neutralizados e aperfeiçoados visando o ciclo até a Copa do Mundo de 2023. Mas assim como vícios, vimos também novas virtudes, que devem ser valorizadas e regadas nos próximos anos do trabalho vigente.

Marta, Barbara
Queda para o Canadá não permite análises acaloradas / Koki Nagahama/Getty Images

O novo apreço pela posse de bola, a saída qualificada com as nossas zagueiras - que fizeram uma Olimpíada de altíssimo nível, por sinal -, a assimilação e rodagem para jovens em ascensão, como Duda e Bianchi, o bom diálogo entre Zaneratto e Debinha... Há um ponto de partida, um norte para a sequência deste trabalho de Pia Sundhage. Por outro lado, existem problemas importantes que ficaram evidentes para todos que acompanham o futebol feminino de perto: a forma como Marta vem sendo (sub) aproveitada presa na faixa lateral do campo, a improvisação de uma zagueira para atuar como lateral-direita, a dificuldade de encontrar alternativas/herdeiras para Formiga, a falta de renovação na meta verde e amarela e, principalmente, a dificuldade do time em se manter competitivo em termos físicos ao longo de 90 minutos são situações que demandam atenção.

Não é hora de terra arrasada ou caça às bruxas, e nem de conformismo ou aceitação: a derrota dói e deve doer, porque havia mais futebol no Brasil do que vimos no torneio. Contudo, diferentemente do que sentimos em 2016, a pespectiva para o futuro é promissora. Temos de onde tirar para evoluir.