Retorno de torcedores aos estádios não pode servir como cortina de fumaça

A volta de público aos estádios parece iminente. Quase como se fosse inútil lutar contra esse movimento tão "natural". Nos últimos dias, por exemplo, tivemos a definição de João Doria, que marcou novembro como o mês de retorno dos torcedores ao seu ambiente favorito de São Paulo. A decisão certamente vem acompanhada de uma série de medidas e recomendações, mas nada que nos tire do incerto lugar de medo.

Veja bem, conforme as atualizações mais recentes dos consórcios de veículos de imprensa, o Brasil atingiu o expressivo número de 50 milhões de habitantes que completaram o ciclo de imunização (segunda dose ou dose única). A marca merece, sim, toda celebração possível, afinal, apesar de um governo federal que pouco fez questão de vacinar a população, 23,85% dela está protegida.

As ameaças, no entanto, estão longe de acabar. Nos últimos dias, as variantes Delta e Gama-plus foram identificadas em território brasileiro. Embora o conhecimento sobre essas novas versões ainda seja insuficiente, sabe-se que elas podem ser mais transmissíveis. Diante do cenário longe de amistoso, a pergunta de um milhão de dólares é, na verdade, um "elefante na sala" - todos sabem que está ali, mas ninguém quer tratar do assunto: estamos em condições de receber pessoas nos estádios?

As respostas mais insensatas certamente irão citar as dezenas de protocolos idealizados pela CBF e Conmebol. Contudo, nem os mais tolos conseguem se enganar com a ideia ilusória de que todas as medidas serão seguidas com o rigor necessário. Você consegue imaginar, por exemplo, milhares de torcedores respeitando as marcações no momento de maior ápice de um jogo?

Outro argumento facilmente encontrado nas redes sociais é o do espelho utópico dos países europeus. De fato, foi belíssimo ver o Old Trafford lotado na estreia da Premier League 2021/22. No entanto, é impossível estabelecer qualquer linha de raciocínio lógica nessa comparação: a Inglaterra, somente para seguir o exemplo, vacinou 60,7% da sua população - a diferença para o Brasil é de incríveis 36,85%.

Qualquer amante do futebol quer retornar aos estádios. Nós entendemos o sentimento. Só não podemos deixar a cortina de fumaça da euforia tapar nossa visão sobre os problemas sanitários do país que, infelizmente, seguem ceifando vidas. Então, respondendo ao primeiro questionamento: não, não estamos em condições de ter público nas arenas.