Presença de público na Eurocopa ecoa um tremendo vazio nos torcedores brasileiros
Por Lucas Humberto
Eurocopa e Copa América acontecem simultaneamente. Diante do atual cenário, é impossível não estabelecer comparações entre os torneios, seja no que diz respeito ao nível do futebol praticado, das seleções, condições dos gramados e, obviamente, a questão do público presente no estádio. Nesta sexta-feira (19), por exemplo, a Uefa anunciou que o lendário Wembley vai poder receber 50% de sua capacidade na fase final - isso representa cerca de 45 mil pessoas.
Deixando um pouco da ilusão de lado e retornando ao nosso cotidiano, testemunhamos a realização da Copa América no mais absoluto silêncio. Realidades diferentes, governos distintos e um reflexo doloroso da pandemia que assola a América do Sul. Claro, a presença de público nos estádios ainda é passível de muita discussão em qualquer lugar do mundo.
A Arena Puskás, por exemplo, estava 100% ocupada na partida entre Hungria e Portugal - isso significa mais de 60 mil pessoas presentes. Antes de acessar as dependências do ambientes, os torcedores tiveram de apresentar um comprovante de vacinação, ou teste de PCR negativo, no caso dos estrangeiros. Apesar dos protocolos, o fato da sede aceitar ocupação total perpassa motivações políticas: é de interesse de Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro conhecido pelas características populistas de extrema-direita, fazer do futebol sua vitrine para reeleição.
Assim, embora muito debate deva ser feito acerca do aguardo retorno da torcida, nos resta um grande vazio ao ver que passamos longe de qualquer porcentagem possível. Acompanhar uma partida da Euro oferece sempre um grande misto de sensações nem sempre positivos: é se animar pelo belíssimo futebol praticado, observar belas histórias serem escritas diante dos nossos olhos e, não menos importante, sentir impotente frente aos rumos sanitários e políticos do país, que obviamente ressoam no esporte.
A sensação de pertencimento ao futebol que só a presença no estádio consegue nos dar ainda está tão longe de nós que o sentimento é angustiante. Apreciar a vida voltando ao normal pelos olhos dos outros tem um gosto agridoce, e a sensação se reflete diretamente nas arquibancadas da Copa América: vazias e silenciosas. Esperamos, claro, por dias melhores e mais cheios dos barulhos uníssonos das arenas. Contudo, por ora, devemos nos ater às piores estatísticas possíveis: 82 positivos para covid-19 no nosso torneio de seleções, 500 mil mortes e somente 11,5% da população está totalmente vacinada.