Postura de Raí, como representante do São Paulo durante crise da pandemia, é elogiável
Muita gente fica na dúvida sobre a mistura entre futebol e política. Para ser sincera, esses dois quesitos estão mais conectados do que nunca. Recentemente, o diretor executivo de futebol do São Paulo, Raí, deu uma declaração pessoal forte sobre o presidente Jair Bolsonaro e seus métodos no combate à pandemia de covid-19. O ex-jogador sugeriu a renúncia do atual presidente.
“Um posicionamento atabalhoado, é o mínimo que se pode dizer. Naquele momento, por exemplo, que ele deu aquele depoimento em rede nacional... Ele está no limite, muitas vezes, da irresponsabilidade, quando ele vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde“.
Em entrevista ao site do Globo Esporte, Raí reforçou que essa opinião era pessoal, completamente desvinculada de seu ambiente de trabalho. O irmão de Sócrates ainda destacou:
“Outro absurdo do Bolsonaro é inventar crises políticas ou de interesses próprios, familiares, no meio de uma pandemia. É inaceitável. Tenho certeza que muita gente concorda, inclusive alguns apoiadores do Bolsonaro. Ele foi eleito democraticamente, mas a própria democracia está conseguindo frear”.
O campeão de 1994 ainda afirmou que seu irmão Sócrates, ídolo do Corinthians e líder da famosa Democracia Corinthiana, estaria descontente com a atual situação.
“Bom, se vocês acharam o meu depoimento forte, imagina o Sócrates. Inaceitável, indignação, só que na natureza dele iria se colocar e obviamente na mesma linha eu seguiria. E ao estilo do Doutor Sócrates, que com certeza teve uma importância gigantesca na história do país”.
O dirigente declarou que o objetivo não é de retornar ao futebol de forma rápida, mas sim consciente, com as orientações recomendáveis. Além disso, Raí também pretende propor aos clubes e à FPF que ajudem os hospitais.
“De alguma forma, quando voltar, o futebol tem de estar atento para colaborar também dependendo da realidade no momento e na medida do possível com a rede estatal de hospitais. É uma coisa a se pensar também. É uma coisa que também estava pensando em propor à federação. Os clubes vão precisar dos equipamentos, mas a federação e os clubes também podem colaborar com a população”.
A visão do ex-camisa 10 tricolor é elogiável, sobretudo num universo que tem se manifestado tão pouco em termos de política nas últimas semanas. Há muita conversa de bastidores e pouca opinião. As poucas que surgem, como as de Raí, se deparam com uma resistência inexplicável de quem ainda crê que o futebol é um mundo à parte, dissociado de atores políticos e sem consequência dos atos destes. Muito pelo contrário.
No momento ainda não há data cravada para o retorno do futebol no Brasil e no mundo. Jair Bolsonaro mostrou-se favorável em relação à retomada do esporte no país, discussão que está longe de ser unanimidade (daí a importância de se manifestar publicamente). Agora o que nos resta é aguardar as cenas dos próprios capítulos.