Piada de jornal 'Olé' com fala racista de Ábila sobre Marinho escancara racismo enraizado na Argentina

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FBL-ARG-ARGENTINOS-BOCA / ALEJANDRO PAGNI/Getty Images
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Ao falarmos de racismo, precisamos ter muito cuidado com estereótipos e generalizações, pois elas tendem a ser injustas. Contudo, existem alguns casos no mundo do futebol que, de tão corriqueiros, já não podem mais receber o tratamento de 'situação isolada' ou 'exceção': a história do futebol sul-americano nos prova como torcedores e/ou jogadores brasileiros quase sempre são as vítimas, e seus algozes são, na maioria das vezes, argentinos ou uruguaios. Não é opinião, é fato.

Na noite do último sábado (9), o futebol argentino esteve no epicentro de mais um episódio racista: uma declaração do centroavante Ramon Ábila envolvendo Marinho, atacante do Santos. Perguntado se tinha trocado camisa com algum jogador do Peixe no jogo de ida da semifinal da Libertadores, Ábila usou a cor da pele do brasileiro para descrevê-lo: "Troquei com Marinho, com o negro, porque o conheço. Bom, com o escuro, porque agora se você diz 'negro', te denunciam. É carinhosamente. Se quem diz 'negro' sou eu, o que resta para os outros, não?", disse.

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FBL-LIBERTADORES-BOCA-SANTOS / AGUSTIN MARCARIAN/Getty Images

Ainda mais grave que a fala racista de Ábila foi a postura do principal veículo da imprensa esportiva do país, o jornal 'Olé', que repercutiu em tom jocoso a declaração do atacante do Boca. A forma como o periódico tratou o grave episódio é uma evidência de como o racismo é enraizado e institucionalizado no país, o que obviamente não significa que todos os argentinos são ou reproduzem comportamentos racistas, mas que há uma 'naturalização nociva' de termos/situações que, em pleno século XXI, definitivamente não cabem mais. Na realidade nunca couberam, mas hoje, com tamanho acesso à informação e luta por uma sociedade menos desigual, são ainda mais inaceitáveis.

Usar a cor da pele para descrever uma pessoa é uma desumanização do indivíduo, uma tentativa de reduzi-lo àquela característica específica. Há poucas semanas, o mesmo aconteceu na partida entre PSG e Basaksehir, quando o quarto árbitro, ao reclamar do comportamento do auxiliar Pierre Webó, usou a seguinte frase: "O negro está ali. Vai ver quem é. Aquele negro não pode continuar a agir desta forma".

Ábila ainda fez questão de marcar/reforçar a cor da pele de Marinho após citá-lo nominalmente, um complemento totalmente desnecessário e que depõe ainda mais contra ele próprio: se sabia o nome do seu adversário, pra que descrevê-lo?

A forma negligente como o futebol sul-americano e suas instituições lidam com o racismo, sempre alheias e permissivas, criaram uma sensação de impunidade que dá campo para esse tipo de comportamento grotesco.