Perdemos, Ganhamos, e agora?
Por Fábio Sá, torcedor do Fluminense.
Dormi puto, acordei pensando.
(Quase sempre) é melhor escrever pensando do que puto, então lá vai.
Perdemos. Perdemos para um time cujo elenco custa 9x o valor do nosso. Perdemos para o time que há décadas vem recebendo da Globo uma diferença de mais de bilhão de reais em relação aos outros, e que só precisava consertar a administração dessa “mesada” para criar o abismo que criou. Consertou (mérito deles), está aí o abismo.
Perdemos para uma Federação que é a cara do que há de pior no Estado do Rio de Janeiro, um estado que prendeu ou no mínimo investigou todos os seus últimos Governadores. Uma Federação coronelista, arcaica, escusa, que age sempre por interesses próprios e nunca pelo bem do futebol. Uma Federação que criou um campeonato cuja fórmula é incompreensível fora do seu umbigo (olha só, deixa eu explicar: são dois turnos, mas você pode ser o campeão sem ganhar nenhum dos dois – basta ver 2018). Uma Federação que cobrou de Fluminense e Botafogo, seus antagonistas, custos de operação 10x maiores do que os dos demais clubes, seus aliados. Uma Federação que não só “permitiu” como incentivou os clubes a treinarem, contrariando os protocolos de saúde da Prefeitura, do Estado, do País, do Mundo! Uma Federação que incentivou e permitiu o roubo dos direitos de transmissão da Final da Taça Rio. Uma Federação que escalou, claramente de sacanagem, o mesmo árbitro que não só não deu uma falta clamorosa na final de 2017, contra o mesmo time, como ainda comemorou o gol dos caras. Isso mesmo – árbitro, comemorou, mesma frase. Parece esculacho, né? E é. Procure saber mais.
Mas perdemos também o medo. Qual torcedor não teve medo depois daquele Fluminense x Botafogo horroroso da semifinal? Quantos comentaristas não só deram o outro time como franco favorito como também chutaram placares sempre de 3x0 pra cima? (Se bem que se começarmos a levar os comentaristas de futebol a sério, esses “entendidos” que na maioria das vezes nunca jogaram uma pelada na vida, aí sim estamos ferrados). Perdemos o medo de encararmos o time da moda, o time que brigou com a mamãe porque viu que a mesada de tantas décadas estava defasada. Encaramos de frente, não uma, mas três vezes. E não teve goleada, não teve humilhação, não teve nada além de três jogos parelhos.
Parelhos, sim, porque, se temos muito menos qualidade do que os caras, se treinamos 8 dias enquanto eles treinaram 40 (escondidos, inclusive), não faltou entrega. Eles tiveram muito mais posse, mas nós tivemos o 1º jogo da Final na mão. Perdemos na falta que o Egídio não fez. No amasso do 2º tempo que não virou o gol da virada. Na falta de pernas pro jogo final (que, até os 95 minutos, continuava 0x0). Não vou tirar os méritos dos caras – é inegável a disparidade dos elencos (basta ver que o banco deles seria todo ou quase todo titular no nosso e provavelmente em 80% dos times da Série A). Mas nem tudo foi perdido.
Ganhamos também. Não só a Taça Rio (grandes merda a Taça Rio, mas é sempre bom lembrá-los que jogar contra nós não é tão simples quanto eles imaginavam). Ganhamos o Dodi, o Matheus Ferraz, o Hudson, o Yago Felipe, o Marcos Paulo (que pena o peteleco que você deu no jogo de ontem, moleque...), o Evanílson. Sim, eles todos já estavam aí e já estavam jogando bem no começo do campeonato, antes dessa volta forçada, mas esse retorno mostrou que podemos até não ter elenco, mas um time nós temos. Não é lá uma Brastemp, mas, bem treinado (será?), pode cumprir um papel interessante no Brasileiro e, quem sabe, na Copa do Brasil.
O que me leva ao elenco, pra terminar. Quem não tem dinheiro, não tem que ter elenco mesmo, não estou reclamando disso. É consequência. Aliás, temos ido relativamente bem em buscar contratações baratas e empréstimos pontuais (Yago, Hudson, Nino, Dodi, Nenê). Compusemos bem o elenco com a base (Marcos Paulo, Evanílson, Miguel, Calegari, Marcos Felipe). E trouxemos de volta um ídolo, que precisa encerrar sua carreira conosco. Tá certo. Mas, como em qualquer lugar, ainda temos algumas âncoras que podem nos afundar. Assim como ensina o Moneyball, se essas âncoras ficarem no elenco, um dia vão cobrar o seu “preço”. Estou falando, principalmente, do Ganso. Não vou me estender aqui – basta dizer que ele não agrega absolutamente nada, ponto. Estou falando também do Orinho, do Egídio, do Caio Paulista, do Felipe Cardoso. O problema nem é tanto com eles, mas sim com o que eles ocasionam. Pensa comigo. Enquanto tivermos Orinho e Egídio, o Calegari não joga. Enquanto tivermos Ganso, o Miguel não joga. Enquanto tivermos Caio Paulista e Felipe Cardoso como “opções” (muuuuitas aspas), não teremos espaço pros próximos João Pedro e Marcos Paulo subirem. Assim como fizemos com o Henrique, que descobrimos rapidamente que não tinha muito a agregar, esse intervalo de agora até o começo do Brasileiro seria perfeito para agradecer aos quatro e seguir sem eles. Aliás, se o Henrique estivesse aí, provavelmente não teríamos redescoberto o Dodi. Então está na hora de nos livrarmos dessas âncoras. Tem multa e não tem dinheiro pra pagar? Não tem problema. Empresta de graça. Empresta pagando parte do salário, se necessário. Bota pra treinar em separado. Mas tem que tirar do elenco, da relação, do banco, porque, enquanto eles estiverem por lá, um dia alguém dá um jeito de escalar.
Quanto ao Odair, o que dizer? Ele fez de tudo pra ser mandado embora na volta do campeonato, com erros grotescos de formação e substituições, mas ainda bem que o Mario é mais racional que a torcida (eu inclusive). Trocá-lo por quem? Nos resta torcer para que ele não escale as âncoras e, principalmente, que vá encontrando uma forma de escalar Calegari e Miguel nesse time, e de manter o Marcos Paulo vivo e animado. Afinal, muito mais do que os “medalhões” (novamente, muitas aspas), precisamos dar valor às nossas próprias joias, antes que elas também se vão.
Que venha a Copa do Brasil e que consigamos reverter o jogo de ida (é obrigação, depois do que fizemos na Sul-Americana).
E que venha o Brasileiro. Que não seja mais uma corrida desesperada pelos 45 pontos. Temos fôlego para a metade de cima da tabela. Fôlego para, quem sabe, beliscarmos uma das trocentas vagas que dão para a Libertadores hoje em dia. Sem as âncoras, é bem possível.
Saudações Tricolores.
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