Ode ao tri: 10 anos do dia em que fui mais feliz por ser e viver Fluminense
Por Nathália Almeida
Eu tenho uma história para contar.
E essa é uma daquelas histórias que te acompanham pra vida toda, não importa quantos anos passem.
O ano era 2010 e, apesar da minha pouca idade à época - tinha 17 anos e estava me formando no ensino médio -, o Fluminense já estava na minha vida fazia uma década. Nesse ponto, na verdade, não é exagero dizer que o Fluminense já era parte considerável da minha vida. Porque 'estar' presume algo passageiro, enquanto 'ser' é permanência.
Não foi fácil começar a torcer para o Fluminense justamente no início dos anos 2000. Para uma criança, a experiência mágica do futebol passa pelos gols, celebrações e vitórias, mas meu time não vencia muito naquele momento. Eu via meu pai chateado e sabia que as coisas não estavam bem, mas já não havia possibilidade de passo atrás para mim: aquele clube já era o meu. Permaneci.
Vivemos mais frustrações do que alegrias nesta década entre minha primeira ida ao estádio, em 2000, e o dia 5 de dezembro de 2010, a data que motiva esse texto. Era um ano difícil para mim em nível pessoal - incertezas sobre carreira e o 'drama' do vestibular -, e foi aí que o estádio se transformou definitivamente em meu lugar seguro: ali não havia medo do futuro, só importava se Darío Conca emplacaria mais uma atuação de gênio para nos conduzir a uma nova vitória no Brasileirão.
Fui a praticamente todos os jogos da campanha do Brasileirão 2010 no Rio de Janeiro. Chorei por não poder viajar e acompanhar os duelos decisivos contra São Paulo e Palmeiras, ambos disputados na Arena Barueri. Mas decidi que ninguém me tiraria do Nilton Santos no jogo decisivo contra o Guarani, dia 5 de dezembro de 2010, em que uma vitória bastaria para encerrar o incômodo jejum de 26 anos sem título nacional que machucava todo torcedor tricolor.
Conseguir um dos pouco mais de 40 mil ingressos que seriam comercializados para aquela partida valia qualquer sacrifício, inclusive dormir na fila no entorno do Nilton Santos desde o dia anterior à abertura da venda de ingressos. Foram aproximadamente 19 horas de espera - cheguei às 18h da véspera do início da comercialização e só saí às 13h do dia seguinte -, maratona que me garantiu uma entrada para o setor sul. Leste e Oeste já haviam se esgotado quando minha vez ia chegando, e a cada nova atualização que partia do início da fila, o coração parecia que ia parar. Aos meus amigos de infância que dividiram essa experiência comigo, gratidão: se vocês não estivessem naquela fila ao meu lado, a ansiedade e a espera seriam torturantes.
Se as lembranças da véspera da partida estão vívidas na minha memória, do jogo ficaram especialmente as sensações: não consigo lembrar um lance sequer daquele duelo contra o Guarani exceto o gol, mas o nervosismo sufocante e a explosão catártica quando Emerson Sheik balançou as redes - justo da trave situada no setor sul, onde eu estava -, me emocionam até hoje.
E até hoje o Nilton Santos nunca testemunhou outra festa como aquela: o alívio e a redenção de uma torcida apaixonada, que viveu o pior e permaneceu sem embrutecer. 5 de dezembro de 2010, o dia do tri, o dia em que fui mais feliz por ser, viver, amar e respirar Fluminense.