Joias da base e sinergia com a torcida são as únicas boas notícias no sofrido acesso do Vasco
Por Nathália Almeida
O torcedor vascaíno pode e deve comemorar o retorno à elite do futebol brasileiro, afinal, o grito estava engasgado e a espera pelo acesso foi longa. O sentimento das arquibancadas cruzmaltinas é principalmente de alívio e de esperança por dias melhores, com a retomada de um Vasco da Gama forte e protagonista. Mas não podemos não olhar criticamente para o que foi a campanha do Gigante da Colina na Série B deste ano: por vários momentos, até o jogo derradeiro em Itu, o vitorioso clube carioca flertou com a tragédia. Muita coisa precisa mudar nos corredores de São Januário.
Dono da segunda maior folha salarial da Segunda Divisão - atrás apenas do Grêmio, que manteve um orçamento alto mesmo na Série B -, o Vasco cometeu inúmeros erros graves em seu planejamento esportivo para a temporada, com falhas/lacunas evidentes na montagem de elenco e constantes trocas na área técnica que escancaram a falta de convicção em uma ideia/filosofia de trabalho. Todo esse entorno resultou em uma campanha errática e pouco inspirada, marcada por atuações abaixo da média, pontos somados "na ponta dos cascos" e derrotas que esmoreceriam qualquer torcida.
Só que a torcida do Vasco não é qualquer torcida. A esta, todo e qualquer elogio será merecido: se em campo o time não correspondia, nas arquibancadas de São Januário, os cruzmaltinos deram aula do que é sentimento real e atemporal, se atribuindo a dura missão de "carregar a equipe no colo" durante toda a Série B. A sinergia com a bancada foi o diferencial neste acesso do Vasco: a quinta melhor campanha como mandante, construída a partir de um pulsante caldeirão, levou o Gigante da Colina de volta à elite nacional.
No mais, o Vasco pode comemorar o surgimento e a ascensão de bons valores oriundos de sua base, como Figueiredo e especialmente Andrey Santos, volante de apenas 18 anos que jogou como "gente grande" nesta Série B. Apesar da expulsão em Itu, o jovem e talentoso meio-campista foi um dos atletas que mais corresponderam tecnicamente e melhor lidaram com a pressão desta tensa Série B, mostrando uma maturidade anormal para alguém tão jovem.
Em meio a escassos destaques e muitos pontos passíveis de críticas, a certeza que fica é uma só: a festa cruzmaltina nesta noite é justa, mas não pode durar muito. O caminho para recolocar o clube na rota das glórias é árduo e exige muita reflexão, muitas rupturas profundas e trabalho sério. Repetir os erros do último triênio não é uma opção para o Gigante da Colina.