Jogador que fugiu da guerra na Ucrânia questiona Itamaraty: “Tivemos mais ajuda de poloneses que do nosso Governo”

Lateral brasileiro do Zorya descreve a saga para escapar de zona de conflito e critica Embaixada do Brasil por falta de suporte em resgate
Lateral brasileiro do Zorya descreve a saga para escapar de zona de conflito e critica Embaixada do Brasil por falta de suporte em resgate / Paolo Bruno/GettyImages
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Uma semana depois de desembarcar no Brasil, fugindo da guerra entre Rússia e Ucrânia, o lateral-esquerdo Juninho Reis, do Zorya, escreveu um depoimento no The Players’ Tribune contando o passo a passo da saga para escapar da zona de conflito.

De acordo com o jogador brasileiro, ele, sua esposa Vitória e filho Benjamim, de 3 anos, levaram quase sete dias para cruzar o país e finalmente sair da Ucrânia. Durante o trajeto, a família presenciou cenas de devastação e teve até de dormir na rua, sob um frio de -11 °C, a caminho da fronteira com a Polônia.

“Eu nunca tinha dormido na rua antes, mas não vimos outra saída a não ser passar a noite ali, à beira da estrada, com outras famílias na mesma situação. Nós catamos todos os materiais que encontramos pela frente — gravetos, pedaços de madeira, plástico, tecidos de roupa e objetos que as pessoas abandonavam pelo caminho — para acender uma fogueira. Foi isso que nos salvou de morrer congelados”, descreve Juninho em seu relato.

O lateral ainda observa que pouca gente no país esperava que Rússia pudesse realmente invadir a Ucrânia, apesar do acirramento das tensões diplomáticas entre os países nos últimos meses. “Todos nós fomos pegos de surpresa na madrugada. Ninguém tem noção do que se passa numa guerra até estar no meio dela”, afirma.

Ao longo da jornada de fuga às pressas, Juninho diz que tentou vários contatos com a Embaixada brasileira em Kiev, mas só recebeu a orientação para ficar em casa e permanecer no país. O jogador crítica o Itamaraty pelo posicionamento de que a Ucrânia era um local seguro para os brasileiros naquele momento.

“Tivemos mais ajuda de poloneses que nunca nos viram na vida que do Governo do nosso próprio país. Se dependesse da Embaixada brasileira ou do Itamaraty, até hoje nós estaríamos na Ucrânia. Para o Governo, um país que estava sendo bombardeado todos os dias era o local mais seguro para mim e para minha família.”

Leia a carta completa de Juninho Reis.