Fluminense segue desperdiçando 45 minutos de jogo por insistência em esquema falho
Por Nathália Almeida
No último dia 25 de abril, escrevi um texto sobre o saldo da participação do Fluminense na primeira fase do Campeonato Carioca. Nele, apontei o "poder de reação"/resiliência da equipe carioca como um ponto a ser destacado na campanha, mas com uma ressalva: a contínua necessidade de correr atrás do marcador, além de desgastante física e emocionalmente, podia ser um sintoma de que algo não estava certo nos primeiros 45 minutos do Tricolor em cada partida.
Três semanas se passaram e o mesmo cenário segue se repetindo à exaustão nas Laranjeiras: o Fluminense praticamente desperdiça a etapa inicial de cada compromisso e só entra no jogo no segundo tempo, especialmente a partir das substituições de Roger Machado. Qual é a explicação para isso? Bem, ela é muito mais profunda do que simples desatenção ou "freio de mão puxado", passando diretamente pelo esquema de jogo e peças escolhidas pela comissão técnica para iniciar o jogo.
Foi-se a época em que o recurso técnico falava por si só e guiava as escolhas naturais para se montar uma equipe. Em um futebol cada vez mais físico, onde cada espaço do campo é disputado com "unhas e dentes", é muito difícil ser intenso e competitivo com dois jogadores acima dos 37 anos de idade, que não conseguem pressionar a saída de bola adversária e ajudar na recomposição. Nesse sentido, Fred e Nenê, JUNTOS, têm criado um problema para o Fluminense: a presença deles em campo ao mesmo tempo sobrecarrega os dois volantes (Yago Felipe e Martinelli) e, por tabela, acaba aumentando as responsabilidades defensivas dos jovens pontas, Kayky e Luiz Henrique.
Fred é o maior ídolo da história recente do Fluminense e, dentro da grande área, é gênio. Seus nove gols em dez jogos disputados na temporada provam que ainda sobra na arte de balançar as redes adversárias. Além disso, é o capitão do time, uma liderança dentro e fora das quatro linhas, e muito importante na bola área defensiva. Sacá-lo do time não é uma opção, ainda que dosar sua utilização seja vital para tê-lo bem durante todo o ano esportivo de 2021.
A alternativa que resta é mexer no status de titular absoluto de Nenê, um jogador inteligente e de qualidade técnica acima da média, mas que não consegue realizar o perde-pressiona e, principalmente, tem grandes dificuldades de acelerar o jogo quando é necessário. Peca sempre pelo toque a mais ou por segurar demais a bola em chances promissoras. A objetividade que falta ao camisa 77 sobra em Cazares, e isso fica escancarado quando analisamos as assistências dadas pelo equatoriano neste início de trajetória nas Laranjeiras. Resta saber se Roger Machado e sua comissão técnica terão o arrojo de mudar onde é preciso, já que o problema do Fluminense hoje passa longe de ser Luiz Henrique, barrado pelo treinador no Fla-Flu do último sábado (15).