EXCLUSIVO! Em conversa com o 90min, Barcos fala sobre saída do Palmeiras e possível retorno ao Grêmio

Argentina v Uruguay - South American Qualifiers
Argentina v Uruguay - South American Qualifiers / LatinContent/Getty Images
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É desde Porto Alegre que Hernán Barcos acompanha tudo o que acontece no mundo e, também, no futebol. Pois em papo com o 90min da Espanha, ele falou um pouco sobre a carreira, suas passagens por Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro, o futuro e, claro, a pandemia de coronavírus. Como sempre se mostrou, foi absolutamente sincero nas palavras. Acompanhe com a gente!

Você teve uma grande passagem pelo futebol brasileiro. Gostaria de ter a possibilidade de encerrar a carreira no Brasil?


Sim. Obviamente tenho um carinho enorme pelo Brasil. Tive uma boa passagem por Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro. Se tiver a oportunidade...Nunca se sabe o que pode acontecer. Tudo vai depender do que acontecer no futuro. Não descarto nada, ainda mais o Brasil, que é um futebol onde eu sempre gostei de jogar e de estar. É o país onde eu vivo e que gosto muito.



Na tua primeira passagem, teve a chance de jogar no Palmeiras, uma equipe muito importante de São Paulo, que tem muito peso. Tiveste uma boa primeira temporada e, no início da segunda, tomaste a decisão de ir embora. Queria recordar essa passagem e também o porquê de ter saído.


O ano que tivemos (2012) na verdade foi muito bom. Fomos campeões da Copa do Brasil, que era um objetivo que havíamos traçado, e depois, lamentavelmente, caímos para a segunda divisão no mês de dezembro. Eu estava lá, iria ficar. Aí chegou ao clube uma proposta do Grêmio, que me compraria, mandaria cinco jogadores e mais dinheiro. E o clube me disse que para eles era uma boa oportunidade. Havia entrado um presidente novo, Paulo Nobre, e ele não poderia pagar meu salário. Disse que a oportunidade era boa para mim e para o clube. Entrariam cinco jogadores e sairia um. Em comum acordo, decidimos pela saída. Obviamente, depois o presidente disse que eu é que havia querido ir embora. Sempre, para a torcida, é o jogador que tem a culpa. O dirigente tem a palavra maior, mas a coisa não foi assim.

NELSON ALMEIDA/Getty Images



Falou que o presidente quis, de alguma fora, “lavar as mãos”. E o que chama atenção é que justamente quando estava sendo convocado à seleção argentina, trocaste de clube. Era uma oportunidade de ficar mais à vista de Alejandro Sabella estando do Grêmio?

Eu, em nenhum momento, disse que iria embora porque poderia ficar longe da seleção. Sabia que não seria fácil chegar ao Mundial com os todos os jogadores que a Argentina tinha, mas também tinha a esperança. E quando o presidente me disse para aproveitar a oportunidade, falei que, se fosse o melhor para todos, iria. Em 48 horas se solucionou a minha parte, porque a deles já estava solucionada.



Não te arrependes, obviamente, vendo os resultados, os gols que fez no Grêmio, mas é fato que não foste ao Mundial. Acredita que foi apressada a forma como deixou o Palmeiras? Poderia ter sido algo mais tranquilo?


A verdade é que eu queria ficar. Em nenhum momento havia pensado nem buscado um outro clube. Sabia que tinha um contrato e havia renovado. Eu estava muito tranquilo. Mas o clube me mostrou a situação, que iria jogar a segunda divisão e não teria dinheiro para pagar um salário do meu patamar. Queria baixar custo. Com meu salário, pagava os cinco jogadores que viriam e outros mais. Em teoria, me disseram: vai que é bom para nós. Obviamente que jogando a segunda divisão eu não iria para a seleção, mas estar no Grêmio também não era uma garantia. São coisas do futebol. A decisão de troca não foi pensando nisso. Foi uma decisão por como se deram as coisas.

"Quando o presidente me disse para aproveitar a oportunidade (sair do Palmeiras e ir para o Grêmio), falei que, se fosse o melhor para todos, iria. Em 48 horas se solucionou a minha parte, porque a deles já estava solucionada. "

Hernán Barcos



Se converteu com o passar do tempo no maior goleador estrangeiro na história do Grêmio. O que significa para um argentino ser o maior goleador estrangeiro de uma equipe brasileira?


É muito lindo. Me identifiquei muito com o Grêmio. Minha esposa e sua família é toda gremista. Há um carinho especial e ser o máximo goleador estrangeiro... tomara que dure bastante, porque é muito gratificante essa identificação. Saio na rua e os torcedores se lembram do Pirata, e isso é muito lindo.



O quanto mudou tua visão de mundo, tua visão como pessoa, depois da relação com a Piratinha, a pequena torcedora do Grêmio que te admirava e que tu passou a acompanhar seu tratamento contra o câncer?


A Piratinha é um caso especial. Na verdade eu sempre tento estar perto da torcida, ver o que necessita, responder a fotos, autógrafos. Me ponho no lugar do torcedor, que espera há meses por uma foto. Dizer um “não” é difícil. Antes de ser um jogador de futebol, eu sou uma pessoa. E isso não podemos nos esquecer e digo sempre aos mais jovens. Se colocar acima dos outros é um erro de valores, de educação que muitos possuem e que é ruim para todos. Muitos pequenos te enxergam como exemplo. Passar algo negativo confunde a cabeça deles, e eu tento ser sempre humilde. A Piratinha... me mandaram uma carta que ela queria me conhecer. Estava em tratamento de leucemia. Eu fui ao hospital a conhecer, dei minha força, ajuda de todo tipo para que pudesse ir adiante. Hoje graças a Deus está muito bem, melhor que eu (risos). E eu fico muito feliz por ela. Obviamente não se consegue ajudar todos, mas se chega em um...

Alan Pedro/Getty Images



Qual o clássico do Brasil que mais gostou de jogar?

O que mais se vive é Grêmio x Inter. É uma região pequena, com os dois grandes clubes. Em São Paulo, o clássico contra Palmeiras x Corinthians é espetacular, mas tem o São Paulo, o Santos. Então o Gre-Nal é sempre para ganhar.



Você defendeu o Cruzeiro em 2018, mas no ano passado o time acabou vivendo uma situação lamentável. Já sem a tua presença, caiu para a segunda divisão. Você chegou a falar com algum ex-companheiro?


Sim sim. Falei com a maioria. E obviamente é uma situação muito difícil, assim como foi com o Palmeiras. Um clube como o Cruzeiro, que havia sido campeão da Copa do Brasil em 2018, o único hexa, e no ano seguinte cair, é duro. O grupo estava bem, chegaram jogadores bons. Não era para acontecer isso. Mas não sei. Eu não estava lá, não posso julgar e dizer o que aconteceu. O que eu sei, sim, e falava com (Ariel) e (Lucas) Romero, é que passaram por um momento difícil. Um clube grande, quando está em uma situação assim, é muito mais difícil de sair.

Pedro Vilela/Getty Images



Se tivesse a oportunidade de terminar a carreira em Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro ou até em outra equipe do Brasil, qual gostaria?


Eu acredito que o Grêmio, por tudo o que representa para mim, para minha família. Mas não descarto nenhuma possibilidade.

"Parece que nada está acontecendo no mundo. É um pouco de educação e mostra um pouco o que as pessoas pensam sobre essa pandemia. A maioria não dá bola até que alguém próximo passe pelo problema."

Hernán Barcos, sobre a Covid no Brasil



Há muita polêmica neste tempo de pandemia no Brasil com o presidente Jair Bolsonaro. Que opinião tem a respeito? Como jogador, é uma voz autorizada dentro da população e um exemplo a ser seguido por muitos. Que opinião tu tens sobre o que acontece no Brasil e, sobretudo, com o presidente?


Na verdade não gosto muito de falar sobre política. Nunca me meti nisso, nunca me interessou. Mas sim, está se vivendo um momento muito difícil, já que não há medidas tão restritivas, como na Argentina, onde acredito que estejam trabalhando muito bem. Aqui, apenas se fecham alguns negócios, se abrem outros. Não há quarentena obrigatória e é o primeiro ou segundo país com mais casos no mundo. Isso é difícil. Quem fica em casa se cuidando depois precisa ir ao supermercado e parece que nada está acontecendo. Vai ao parque e parece que nada está acontecendo. Isso dói, porque é ignorância da população. Na hora de abrir um shopping, parece uma loucura, por pressão de empresários. E os shoppings ficam cheios de gente. Parece que nada está acontecendo no mundo. É um pouco de educação e mostra um pouco o que as pessoas pensam sobre essa pandemia. A maioria não dá bola até que alguém próximo passe pelo problema.



O que te pareceu a tentativa de volta antecipada do futebol no Brasil?


Uma loucura. Há 30, 40 mil casos por dia e querem jogar futebol. É uma loucura.