Emprestar Ganso ao Santos não é um movimento inteligente do Fluminense
Por Nathália Almeida
Negociação que corre há semanas e que ainda segue em aberto, a possível ida de Ganso ao Santos divide torcedores dos dois clubes envolvidos. Há santistas entusiasmados e outros desconfiados, e não é raro nos depararmos com estes dois grupos, de visões distintas, debatendo acaloradamente nas sociais sobre qual seria a contribuição desta atual versão do armador na Vila Belmiro. Mas e o torcedor do Fluminense? Qual é a visão dos tricolores sobre a negociação?
Afirmar que Ganso divide opiniões nas Laranjeiras não é mentira, afinal, também há uma 'polarização' entre tricolores quando o assunto é o camisa 10. Muitos entendem que o articulador tem um custo-benefício muito baixo, por ganhar um salário alto e entregar pouco. Em contrapartida, há quem critique essa premissa pelo simples fato de que Ganso não recebeu sequência de jogos no clube desde a saída de Fernando Diniz, portanto, não seria justo cobrar gols e assistências em profusão de um jogador que vem sendo subaproveitado há praticamente dois anos, entrando em campo sempre nos minutos finais ou mesmo fora de posição.
É fato que o clube carioca errou ao oferecer o maior salário do elenco ao armador, para convencê-lo a assinar. Errou também ao oferecer contrato tão longo a uma aposta, pois esse era o status de Ganso em 2019, após tantas passagens apagadas por clubes médios/pequenos da Europa. Mas já que fez o negócio, o Fluminense deveria tentar esgotar todas as possibilidades antes de aceitar emprestar um ativo (seu passe pertence ao clube) a um rival brasileiro, e ainda arcando com parte dos seus vencimentos. É um modelo de negócio totalmente nocivo ao time das Laranjeiras, que não lhe dá nenhum retorno além de uma economia rasa que dificilmente será aplicada em reforços.
Além de nociva em seus termos, o empréstimo de Ganso ao Santos também é ruim para o Tricolor em termos esportivos. Com Brasileirão, Copa do Brasil e Conmebol Libertadores por disputar na temporada 2021, o Fluminense precisa de profundidade em seu elenco mas, na contramão disso, vem se desfazendo de diversas opções de qualidade de seu setor criativo: Michel Araújo, Miguel e Marcos Paulo são alguns dos meias que saíram dos planos do clube, ao passo que Juan Cazares, contratado no início do ano, representará a Seleção do Equador na Copa América. Caso Ganso seja negociado, o time das Laranjeiras ficará reduzido à Nenê como única opção de armador pelos próximos 40 dias, cenário arriscado e até mesmo imprudente pensando nas demandas físicas que o calendário brasileiro impõe.
Fisicamente falando, Ganso passa longe de ser o jogador de uma década atrás, mas seu QI de futebol não mudou. Sua visão de jogo e passe ainda são diferenciados, e sua contribuição defensiva não é nula como muitos dizem: se fosse, o camisa 10 não teria terminado o Brasileirão 2019 entre os líderes do time em desarmes. Pode ser muito útil em partidas contra defesas bem postadas, pois tem a capacidade de quebrar linhas com um passe. Seu estilo de jogo é fundamentalmente oposto ao de Nenê e, também por isso, o mais inteligente por parte do Fluminense seria ficar com Ganso e aproveitá-lo mais: ter um meia de características distintas ao titular é importante, pois cada jogo é uma história, e cada adversário vai exigir algo a mais e diferente do repertório tricolor.