Edina Alves fala sobre o espaço da mulher na arbitragem e recorda erro no Paulistão: 'Ali, desabei'
Por Antonio Mota
Após meses de tensão, medos e ansiedade, a árbitra de futebol Edina Alves recebeu uma excelente notícia na semana passada. Sua mãe, de 64 anos, venceu o câncer – esse que foi descoberto meses atrás, pouco antes da partida entre São Paulo e Novorizontino pelo Campeonato Paulista, e que abalou a “dona do apito”.
Já consagrada no esporte nacional e internacional, Edina foi impactada pelas previsões negativas dos médicos em relação ao quadro de saúde da mãe. A paranaense perdeu o pai para a doença anos atrás. Com a recuperação da sua mãe, a árbitra fez história ao apitar a final do Campeonato Brasileiro Feminino entre Palmeiras e Corinthians, na Neo Química Arena, no último domingo, 26 – jogo que contou com todo o quatro de arbitragem formado por mulheres.
Aos 41 anos, Edina atua pela Confederação Brasileira de Futebol desde 2007, e precisou de 12 anos de experiência na entidade (e 20 de futebol profissional) para chegar à arbitragem de uma partida da Série A, em 2019. Conforme o UOL Esporte, a árbitra passou por um longo período de testes, descendo diversos degraus a cada atuação ruim.
A fase de testagem da árbitra foi mais demorada do que para outros profissionais. O árbitro Ramon Abatti, de 32 anos, por exemplo, ficou apenas três anos neste estágio: entrou na CBF em 2017 e, em 2020, comandou seu primeiro jogo na Série A do Brasileirão.
"Nós, mulheres, temos que provar o tempo todo que somos capacitadas. Mesmo quando a gente consegue mostrar, não adianta mostrar uma, duas vezes. A gente tem que mostrar sempre. E, quando a gente erra, a tolerância é bem menor", declarou Edina, em entrevista ao UOL, antes de completar:
"O homem vem com selo de qualidade aprovado pela sociedade, principalmente no futebol. Quando a menina nasce, ganha uma boneca. O menino, uma bola."
- completou Edina.
Apesar das barreiras, Edina falou da importância de seguir trabalhando e de ser reconhecida por seu trabalho. "A gente tem vivido uma nova fase, que é resultado de uma construção de anos. Um passo de cada vez, um na frente do outro. Com competência e muita capacidade, as mulheres têm requisitado o próprio espaço. Não me refiro só à arbitragem feminina, mas também ao futebol feminino, que tem crescido cada vez mais".
"Brigamos, trabalhamos e construímos para conquistar esse espaço. Amamos futebol como os homens", completou a árbitra.
Para completar, Edina também enfatizou que a tendência é que o número de árbitras aumente no futebol: “Eu tenho 22 anos de profissão, mas tem muita menina começando, e, na arbitragem, não se deve pular fases. É importante construir a própria história com paciência, para chegar com capacidade e qualidade que ninguém vai poder questionar. Logo, haverá muitas mulheres apitando", encerrou.
Fossa após erro no Paulistão
Em entrevista, Edina Alves ainda comentou sobre um erro que a deixou ‘na fossa’. A árbitra não marcou um pênalti para o São Paulo contra o Novorizontino, em uma partida do último Campeonato Paulista, e isso mexeu muito com ela.
"Eu não vi. Falei para o VAR que estava em dúvida porque não tinha conseguido enxergar. Ele me disse que não havia sido pênalti, e eu segui", declarou, completando: “Ali [no vestiário após o jogo], desabei. Falei para meus colegas: 'Eu errei, foi pênalti'. Eles tentaram me consolar dizendo que o VAR havia me dito que não. Mas eu estava vendo no vídeo, foi pênalti, sim. E eu não dei”.
"Esse lance me machucou. Fiquei deprimida, em uma fossa absurda por meses. Precisei de terapia para me recompor daquele dia, e essa é a primeira vez que falo sobre isso abertamente. Foi um erro inadmissível, eu me posicionei mal e não consegui ver. Não gosto de errar, ainda mais desse jeito", disse Edina, que, pouco antes dessa partida, havia recebido a notícia do linfoma da mãe.
"Hoje, eu percebo que deveria ter parado de apitar naquele período. Eu não conseguia pensar em outra coisa senão isso, era muita preocupação. Mesmo tensa, apreensiva, eu tinha obrigação de tranquilizar minha mãe, de dizer que iria passar, que ela venceria, mesmo sem qualquer certeza disso. E eu estava longe. Foi difícil. Sei que não ter parado me prejudicou na arbitragem, mas são escolhas que a gente faz", finalizou.
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