Dupla traição? Entre razão e emoção, Ceni arranhou sua linda história no Fortaleza, mas o tempo cura tudo
Por Antonio Mota
Rogério Ceni aceitou o desafio do Flamengo e mais uma vez deixou o Fortaleza com a temporada em curso. Antes, no ano passado, ele trocou o Leão do Pici pelo Cruzeiro, o que não acabou muito bem, e ele voltou para o Castelão. À época, o Tricolor o abraçou sem maiores ressentimentos, mas e agora: a torcida cearense segue com os braços e sorrisos abertos para o Mito?
Bom, ao menos no termômetro das redes sociais, há uma divisão muito grande entre os tricolores, mas palavras como “insatisfação”, “ingratidão” e até “traição” parecem ser maioria na multidão. O coração dos apaixonados pelo Leão não amanheceu feliz, e existem muitos motivos para isso. Ceni não errou, mas poderia ter feito diferente.
Rogério Ceni é o maior treinador da história do Fortaleza. Não há dúvida. E essa “coroa” merece ser cuidada com mais carinho e respeito. O ex-goleiro poderia ter esperado o final da temporada – fevereiro de 2021 é logo ali –, encerrado o seu caminho pelo Ceará da maneira certa, sendo ovacionado por milhares de Tricolores e um grande mosaico: “Mito”. Mas, não, ele aceitou o Flamengo e quebrou até sua própria palavra:
“Hoje cumpriria meu contrato com o Fortaleza independente de qualquer coisa. Ano passado tive uma experiência e achei que, sempre falo que quando você muda de time no meio de uma temporada, não tem mais condições de reclamar quando te mandam embora. [...] Pretendo finalizar a temporada no Fortaleza, independente de proposta e depois sentar e conversar”, declarou, em entrevista ao “Bem, Amigos”, do SporTV, no mês passado.
De todo modo, o que está feito, está feito, Ceni é treinador do Flamengo, e o Fortaleza tem que olhar para a frente, o que resta agora é trabalhar para terminar a temporada bem. Isto serve para ambos os clubes. Mas e o torcedor do Leão? Bom, o ídolo tricolor manchou sua trajetória no clube, foi ingrato ao abandonar o barco com o calendário em andamento, e a torcida vai lembrar de tudo isso, mas, no fim, o que vai sobrar é o reconhecimento pelo o que o Mito fez.
E o exemplo pode ser tirado do próprio Flamengo com Jorge Jesus. O Mister foi para o Benfica e deixou o Rubro-Negro “na mão”. Logo, a Nação o criticou dia e noite por um bom tempo, mas, hoje, é mais uma bela recordação do que um “traidor”. A vida é assim. O futebol é assim. Os treinadores, os jogadores, os dirigentes e demais funcionários sempre vão, mas o clube fica. O tempo cura tudo.