Deboche de cartola da CBF sobre maratona do Palmeiras só reforça descaso da entidade
Por Nathália Almeida
Após completar seu jogo de número 75 na temporada - empate por 1 a 1 contra o São Paulo, clássico disputado na última sexta-feira (19) -, o Palmeiras, na figura de seu treinador Abel Ferreira, voltou a questionar o pesadíssimo calendário de compromissos, com o time praticamente jogando de 48 em 48 horas nos últimos dez dias. O desabafo justo do treinador, no entanto, foi recebido com desdém por parte de um cartola da CBF: vice-presidente da entidade, Francisco Noveletto debochou da reinvindicação alviverde em entrevista, colocando a 'culpa' do calendário apertado na ambição do clube paulista em conquistar os campeonatos.
"Quem mandou querer ganhar tudo? Vê se o presidente do Palmeiras abre mão. Ele não é obrigado a jogar, mas quer ganhar. Pode abrir mão, não é obrigado. Quer fazer caixa, ganhar prêmio da CBF, de quem patrocina os campeonatos. Pagaram R$ 90 milhões para a Copa do Brasil. Na Libertadores, 20 milhões de dólares. É tudo assim e eles não são obrigados. Quem mandou ganhar? Ganha só metade, para não ter problema", afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes.
A declaração fora do tom vinda de um 'homem forte' da entidade que rege o futebol nacional só escancara o descaso da própria em relação ao seu produto. Escancara também como o debate sobre calendário no Brasil só acontece em tom raso, quase amador: as 'soluções' (se é que podemos chamar assim) propostas são sempre superficiais ou risíveis, ao ponto de um cartola da CBF optar por culpabilizar um clube por sua ambição e espírito competitivo, quando isso deveria ser exaltado.
Talvez o Brasil seja o único país no mundo onde a instituição máxima de seu futebol desdenha de um clube que leva a sério as competições organizadas por ela mesma. Uma contradição absoluta que beira o absurdo, já que a CBF e Federações Estaduais são as primeiras a reclamar quando uma equipe opta por poupar esforços em certo torneio em detrimento de outro.
No caldo das contradições, das 'alfinetadas' e do deboche às questões sérias, o futebol brasileiro vai atrofiando em estrutura e ideias. Isso ajuda, e muito, a explicar o porquê de termos estacionado no tempo enquanto testemunhamos outras ligas liderando pelo exemplo.