Danilo Avelar e a geração da modernidade retrógrada nos eSports
Por Lucas Humberto
Ao longo dos últimos anos, o universo dos esportes eletrônicos, ou eSports, ganharam novas aparências. A modalidade deixou de lado o caráter de hobbie e se transformou na profissão na muita gente. A popularidade aumentou, e os participantes também. E, como tudo que envolve seres humanos e suas vivências, sabíamos que casos de preconceito aconteceriam cedo ou tarde. Infelizmente, foi cedo.
Nas últimas semanas, três exemplos emblemáticos de como não se comportar vieram à tona. O streamer Hastad, do popular Valorant, foi banido da plataforma Twitch após chamar outro jogador de preto. Mais recentemente, Buxexa, conhecido entre os amantes de Free Fire, se referiu à Marcella Pantaleão, uma streamer transsexual, como "mulher de três pernas". E, nesta quarta-feira (23), as redes sociais foram tomadas pela polêmica envolvendo Danilo Avelar, zagueiro do Corinthians, que se dirigiu a outro usuário, durante partida de Counter-Strike: Global Offensive, como "fih (filho) de rapariga preta".
O mercado dos jogos eletrônicos se ancora, entre outros fatores, em três grandes instâncias: apoio do público jovem, patrocínios de grandes empresas e modernidade. Embora a responsabilidade social para com o público devesse ser prioridade, sabemos que as lições só costumam ser aprendidas quando dói no bolso. E costuma doer. Cada vez mais preocupadas, dificilmente corporações que se prezem irão permitir suas imagens ligadas aos atos que citamos acima.
Acontece que há muito mais por trás desses casos nada isolados. Os streamers e influenciadores se comunicam, diretamente, com jovens que podem estar formando conceitos na frente da tela. Se, em pleno junho de 2021, é preciso punições severas para mostrar que racismo e transfobia não só são errados, como são crimes regidos por lei, ainda há muito para caminhar. Danilo Avelar, Hastad e Buxexa são só três exemplos do gigantesco recorte de preconceitos que temos no Brasil. Mas, nesse caso, as principais plataformas podem ir além.
O terreno em construção dos esportes eletrônicos no Brasil não pode cometer o mesmo erro do futebol e tantos outros esportes. A modalidade que tanto amamos ver foi, infelizmente, cunhada com preconceito e LGBTfobia. Por isso, ainda hoje, lutamos contra apelidos e "brincadeiras" que nunca tiveram graça. Os eSports devem mostrar, desde cedo, que não há espaço para preconceitos.
Equipados com alguns dos mais modernos equipamentos do mercado, os streamers precisam entender que não trabalham numa terra sem lei. Isso a internet nunca foi. Não podemos utilizar dos mais recentes artifícios da tecnologia para dar centenas de passos para trás. Não há mais espaço para ser retrógrado no esporte.