Cruzeiro 100 anos: a grandeza construída nas raízes de Minas Gerais
#VozDoTorcedor
*Texto escrito por Paulo Jelihovschi - psicólogo, empresário e acima de tudo, mineiro, cruzeirense e vencedor.
Completar 100 anos é uma conquista de poucas instituições. Neste mundo caótico, se torna cada vez mais difícil sobreviver a crises, guerras, pandemias e diversas intempéries às quais estamos sujeitos. E o Cruzeiro conseguiu.
Como torcedor participo há 33 anos desta construção - e digo que vi um gigante ser erguido e consolidado. O Cruzeiro Esporte Clube chega ao seu centenário reconhecido internacionalmente como um dos maiores times do país e do mundo. E essa grandeza, tanto para o Cruzeiro como para qualquer outro time, só se faz com muito trabalho e empenho, que levam à construção de uma instituição essencial nos âmbitos cultural, social e, principalmente, esportivo. Desportivamente, a construção da grandeza, para qualquer time, só pode ser traduzida na conjunção formada pelo tamanho de sua torcida, na soma de títulos relevantes (nacionalmente e internacionalmente) e uma história de grandes feitos reconhecida por seus adversários. Não há outro caminho. Andar com a camisa azul estrelada no exterior atesta esta história de sucesso. Constantemente a camisa é reconhecida e você é chamado a conversar sobre os feitos do time.
Apesar de relevantes, estas questões são comuns a todos os gigantes, não são privilégios a nenhum deles. A questão posta aqui é: o que faz o Cruzeiro único, distinto, capaz de ser reconhecido e apoiado nos quatro cantos do mundo? O que faz esse time surgido do trabalho de imigrantes italianos, nascido na escondida Belo Horizonte, conquistar o mundo? Todo grande time possui em seu DNA traços e características que o fazem inigualável, e digo sem medo de errar que a nossa é Mineiridade.
O Cruzeiro é o mais mineiro dos times. É levar em sua essência as raízes locais que o fizeram conhecido. O Cruzeiro é aquele senhor discreto presente em qualquer cidade do interior de Minas Gerais, que anda mal arrumado, com roupas velhas, chapéu de palha e barba por fazer. Ninguém dá nada por ele até se aproximarem para conversar e descobrirem que esse senhor é dotado de grande inteligência e excelentes histórias. Indo mais a fundo, descobre-se que ao longo da vida construiu, com muito trabalho, grande fortuna e possui uma numerosa e feliz família. O Cabuloso se fez nessa Mineiridade do interior, com trabalho duro e discreto, longe dos grandes centros e da mídia, mas sempre trazendo resultados surpreendentes, equivalentes ou até maiores que os dos times sempre presentes nos noticiários nacionais. Sem falar nem espernear, construímos grandes times, conquistamos títulos e consolidamos uma das maiores e mais amadas marcas esportivas do país, e isso sem despertar repulsa em ninguém - outra forte característica dos mineiros. Para não correr o risco de ser injusto, talvez despertemos em nossos adversários, como efeito colateral ao nosso sucesso, alguma inveja naqueles que não conseguem alcançar nossos feitos. Acima de tudo, crescemos construindo respeito por onde jogamos.
Tudo isso se reflete dentro de campo, traduzido em um futebol sempre sóbrio, com grandes times e craques que praticam o jogo de quem sabe os caminhos para vencer os mais difíceis adversários, sempre objetivo, bem trabalhado e bonito. Esse é o mais mineiro dos jogos, de quem domina as ações mesmo contra os mais fortes, sabe do seu potencial e nunca menospreza seu oponente. Acima de tudo, que nunca abaixa a cabeça pois sabe o seu valor. O Cruzeirense é assim: mesmo frente ao maior dos adversários nunca diminui seu valor, olha em seus olhos e bate nas cinco estrelas presentes em seu peito, cheio de autoestima pensando "eu sou o Cruzeiro, não devo nada a você e vou te vencer!" enquanto sorri para ele.
Assim também é o mineiro: quieto, desconfiado, duro, astuto e direto. Respeita seus adversários, mas sabe o que quer, sabe do seu valor e vence. O Cruzeiro e sua torcida têm esses valores e características em seu DNA. Por isso o time se tornou o Maior de Minas. É fácil para o mineiro se reconhecer no Cruzeiro. É como se olhar no espelho e ver o melhor de si. E o maior pecado que o mineiro pode cometer, e que o Cruzeiro comete nos últimos anos, é se afastar dessa sua essência. Paga-se caro, como estamos pagando, por se desviar do seu caminho, das suas origens, e tentar ser algo que não se é. Quando isso ocorre é preciso olhar para trás, para a história, se reconectar com sua verdadeira essência e corrigir a rota.
Essa é a grande beleza de ser mineiro. Ele sempre aprende olhando para o passado e suas origens, e ele aprendeu nos últimos 100 anos que dentro de seu coração existe um grande clube nascido na cidade de Belo Horizonte e que conquistou o mundo. E ele vive cheio de vaidade, pois olha para trás e enxerga claramente a história de construção de um gigante, impresso em páginas heroicas e imortais. Além disso, o mineiro sempre poderá vislumbrar o futuro ao olhar para o céu e ver os caminhos que as cinco estrelas da constelação do Cruzeiro do Sul nos apontam. Elas estão lá desde sempre - e sempre estarão - guiando os mineiros, para caminhos vitoriosos de felicidade e prosperidade. Este povo querido, tão combatido e jamais vencido. E que vê no Cruzeiro Esporte Clube, há 100 anos, o seu grande campeão.