Árbitro brasileiro é o primeiro do quadro da Fifa a se declarar homossexual: 'Sou gay, mas sou uma pessoa normal'

Árbitro clama por respeito em qualquer ambiente
Árbitro clama por respeito em qualquer ambiente / Friedemann Vogel/GettyImages
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Igor Junio Benevenuto de Oliveira se tornou, nesta sexta-feira, o primeiro árbitro do quadro da Fifa a se declarar homossexual. A revelação foi feita ao podcast Nos Armários dos Vestiários, do GE.

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Árbitro é mineiro e tem 41 anos de idade / Pedro Vilela/GettyImages

Mineiro de 41 anos, ele disse que cresceu odiando o futebol por conta do ambiente machista e do preconceito disfarçado. "Para sobreviver na rodinha de moleques que viviam no terrão jogando bola, montei um personagem, uma versão engessada de mim. Futebol era coisa de 'homem', e desde cedo eu já sabia que era gay. Não havia lugar mais perfeito para esconder a minha sexualidade. Mas jogar não era uma opção duradoura, então fui para o único caminho possível: me tornei árbitro", afirmou.

"Passei minha vida sacrificando o que sou para me proteger da violência física e emocional da homofobia."

Igor Junio Benevenuto de Oliveira

Segundo ele, sempre foi uma tortura ir a estádios de futebol. E foi a partir da Copa do Mundo de 1994 que ele deu um outro significado à sua relação com o esporte. "Olhei a televisão e me interessei imediatamente e exclusivamente pela figura diferente que estava em campo: o árbitro. Foi justamente naquele ano que a Fifa aprovou a mudança dos uniformes dos juízes para o Mundial dos Estados Unidos. O preto deu lugar a cores vibrantes — camisas prateadas, amarelas e rosa. Fiquei enfeitiçado pelo combo — as cores e o cara que controlava tudo. No dia seguinte, na pelada com os meninos, avisei que não iria mais jogar. Queria comandar a partida."

"Ser árbitro me coloca em uma posição de poder que eu precisava. Escolhi para esconder minha sexualidade? Sim. Mas é mais do que isso. Eu me posicionei como o dono do jogo, o cara de autoridade, e isso remete automaticamente a uma figura de força, repleta de masculinidade. Eu queria ter esse comando e exigir respeito, como quem diz: 'Ei, eu estou aqui! Vocês vão ter de me engolir e respeitar, me dar a oportunidade de estar entre vocês no futebol porque, sim, eu sou gay, mas sou uma pessoa normal, como todo mundo. Vocês não são melhores do que eu porque gostam de mulher."

Igor Junio Benevenuto de Oliveira

Não opinião do árbitro, ninguém tem que se sentir menor por ter atração por pessoas do mesmo sexo. "Quero respeito, que entendam que posso estar em qualquer ambiente", completou Benevenuto.