A pessoa por trás das conquistas: Abel Ferreira nos lembra a importância da gestão humana
Por Lucas Humberto
A 10ª rodada do Campeonato Brasileiro terminou com a liderança do Palmeiras. A chegada à ponta da tabela veio após uma vitória com ares de recital: 4 a 0 diante de um Botafogo completamente anulado. Tudo estava decidido ainda no primeiro tempo. Mas foi perto do apito final que Wesley guardou o seu.
Cria da Academia, o atacante de 23 anos ainda busca seu espaço no competitivo setor ofensivo de Abel Ferreira. Apesar da pouca minutagem, ele teve o contrato renovado até o fim de 2025. A gestão humana permanece sendo o grande trunfo desta geração alviverde que não apenas segue vencendo como rejeita a derrota.
A filosofia, claro, parte daquele que talvez seja a figura mais rara do cenário brasileiro. Abel faz questão de dar lições que vão muito além das quatro linhas: "Insisto que se os jogadores tiverem cabeça, eles terão uma vida tranquila, e não como muitos jogadores que assistimos, que ganham muito dinheiro e destroem o dinheiro todo", pontuou em coletiva.
"Eu fico triste, porque às vezes é uma questão de educação. Eu digo para eles que é só ter três cofrinhos: um para as despesas de todos os meses, outro para aqueles que são os meus objetivos, que é comprar uma cama nova, um computador novo, e o último que eu não posso mexer, que é a minha segurança. Isso que eu tento passar para todos eles", seguiu.
"A vida do jogador passa rápido. Eles ganham muito, mas gastam muito também. Se eles não tiverem isso ao chegar no final da carreira, acabam com todo o resto"
- Abel Ferreira em coletiva
Nos próximos anos, a tendência é que o treinador tenha ainda mais jovens à disposição. Com exceção da joia Endrick, que completa 16 anos somente em julho, todos os demais campeões da inédita Copinha pelo Verdão tiveram vínculo estendido. Eles certamente vão ouvir alguns bons conselhos do português.
"Antes de ser treinador, eu sou formador de homens. Uma vez no Braga eu disse "prefiro ser conhecido como um bom homem, do que como um bom treinador", e se algum dia eu tiver que sair daqui, o que eu gostaria que dissessem de mim é "você foi um cara top para as pessoas que trabalham dentro do clube, que fez tudo o que podia pelo clube". Não preciso de mais nada", disse.
"Aos mais novos, gosto de falar com eles sobre isso, como "moleque, está gastando dinheiro em carros, mas casa já comprou?". Às vezes é muito fácil nos deslumbrarmos e precisamos nos puxar de volta para a terra. Aproveitem o momento, mas pensem que há um futuro, e a vida do jogador de futebol dura aí dez, 12 anos e acaba"
- Abel Ferreira em coletiva
"A minha função é educar os meus jogadores, que é o que eu quero fazer com as minhas filhas, quando estiverem perto de mim. É isso que está me faltando agora, a escola está acabando. Eu acho que sou melhor pai com os meus jogadores, do que sou com as minhas filhas", completou. Vale lembrar que a esposa e as filhas do treinador estarão no Brasil no segundo semestre.
Marcado pelos títulos, Abel aos poucos se eterniza no futebol pela filosofia. As taças, claro, movem qualquer agremiação esportiva. São elas que tornam a galeria de troféus do Palmeiras tão rica. Mas é o reflexo humano do treinador que irá permanecer. Conquistas do tipo ecoam em gerações inteiras. Infelizmente, elas são cada vez mais raras.