55 dias para a Copa do Mundo: entre fascismo e futebol, a Itália levantou a taça para 55 mil pessoas em Roma

Itália foi a campeã do mundo em 1934, diante de 55 mil torcedores
Itália foi a campeã do mundo em 1934, diante de 55 mil torcedores / Arte: Eduardo Fricks
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Se você buscar uma passagem aérea para o Catar no dia em que estiver lendo este artigo, certamente terá dificuldades para encontrar. E se por um milagre de proporções bíblicas tiver um bilhete à sua disposição, nós te asseguramos que o montante exigido para adquiri-lo vai deixar sua conta bancária pelo menos quatro dígitos mais pobre.

A explicação é simples: oferta e procura. Nesta altura do campeonato, quem vai marcar presença em Doha e demais sedes do Mundial já garantiu passagem, hospedagem e ingressos. Ou pelo menos deveria. Desde as primeiras edições, a Copa do Mundo movimenta milhões de pessoas. Em 1934, 55 mil pessoas assistiram a decisão da primeira edição do torneio disputada na Europa.

Catar, sede da Copa do Mundo de 2022
Catar receberá milhões de pessoas nos próximos meses / Handout/GettyImages

Mas antes de chegar ao duelo derradeiro, vamos te contar o que mais tornou o Mundial de 34 completamente único. Diferente da Copa anterior, houve um grande interesse das seleções do Velho Continente. No total, 32 equipes se inscreveram. Havia, portanto, um evidente problema, uma vez que só haviam 16 vagas.

Foi necessário então realizar uma espécie de eliminatória, inclusive contando com a participação da própria Azzurra. Entre disputas esportivas, simples desistências e questões de ordem geopolítica, sobraram 12 seleções europeias, duas da América do Sul, uma da América do Norte e Caribe e uma de África e Ásia.

Atual campeão, o Uruguai sequer se inscreveu nas eliminatórias em evidente retaliação pelo boicote europeu sofrido em 1930. Dentre os classificados destacavam-se a Áustria, não por acaso apelidada de Wunderteam (Time Maravilha), a Itália de Giuseppe Meazza, e a Espanha do lendário goleiro Ricardo Zamora.

A Itália de 1934
Sede do Mundial, a Itália estava entre as melhores equipes do mundo / Keystone/GettyImages

Suécia, Hungria, Suíça, Romênia, Holanda, Bélgica, França, Brasil, Argentina, Egito, Estados Unidos, Tchecoslováquia e Alemanha. Estava na hora dos confrontos. Dona da casa, a Azzurra passou pelos Estados Unidos com tranquilidade nas oitavas de final. Um sonoro 7 a 1 encerrou o sonho norte-americano ali mesmo.

Geopolítica, futebol e glória

Nas quartas, Itália e Espanha protagonizaram dois embates duríssimos. No primeiro deles, prevaleceu a igualdade em 1 a 1. No dia seguinte, em uma espécie de playoff de desempate, Meazza, autor do único gol do confronto, levou seus companheiros mais longe. Na semifinal, outra pedreira vencida pelo placar mínimo. Desta vez, Enrique Guaita marcou para eliminar a badalada Áustria.

Na grande decisão, esta disputada no Stadio Nazionale PNF, em Roma, diante de mais de 55 mil pessoas, a Azzurra só conseguiu vencer a Tchecoslováquia na prorrogação. À época, Angelo Schiavio encontrou o caminho das redes depois de um empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. Uma nova seleção havia chegado ao topo do mundo.

Vittorio Pozzo, ex-técnico da Itália
Vittorio Pozzo era o técnico da seleção italiana / Alessandro Sabattini/GettyImages

A conquista foi amplamente explorada pelo ditador Benito Mussolini, algo que voltaria a ser feito em outros períodos da história e nos mais diferentes contextos de autoritarismo. A tetracampeã Itália ainda levaria mais três edições da Copa do Mundo, em 1938, 1982 e 2006. No Catar, não veremos a Azzurra em campo. Quem sabe em 2026, certo?